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terça-feira, 23 de junho de 2015

ESTILO DE VIDA MAIS LIMPO PODE TAMBÉM CAUSAR MAIS ALERGIAS


Estudos reforçam teoria de 1990 de que o excesso de zelo por li,mpeza  está associado a um sistema imunológico menos preparado  para proteger o corpo de bactérias inimigas.

 

   Do álcool gel à comida pasteurizada , dos antibióticos ao aspirador de pó, do sabonete bactericida aos banhos diários: a verdade é que nunca estivemos tão limpos. O nosso estilo de vida , que evita ao máximo o contato com micro-organismos que podem causar doenças, está nos deixando cada vez mais imunes às ameaças do ambiente. Mas uma delas, em especial, tem traçado o caminho inverso.

   Com uma prevalência cada vez maior na população mundial, a alergia – em suas mais variadas formas – é hoje considerada a doença da vida moderna. Nos Estados Unidos, ocupa o quinto lugar no ranking de doenças crônicas. No Brasil, estima-se que, nas últimas décadas,  o número de alérgicos tenha aumentado 50%. A estimativa mundial é de que uma em cada três pessoas sofra algum tipo de reação alérgica – um número muito maior que o da época de nossos avós.  E essa incidência,  preveem  os especialistas,  pode chegar a alcançar metade da população mundial nos próximos 10 anos. 
   “Há cerca de quatro décadas, as doenças alérgicas deixaram de ser condições até certo ponto raras, atingindo, nos dias atuais, proporção  epidêmica, o que as têm levado a ser consideradas um problema sério de saúde pública – explica o alergista  e imunologista Giovanni Marcelo Di Gesus, do Hospital Santa Casa de Porto Alegre.
   Muitas teorias surgiram ao longo dos últimos anos par explicar o curioso fenômeno, mas cientistas acreditam que agora estão no caminho certo para desvendar a origem do mistério.


   DEFESAS CONFUSAS
               

   Todos  somos cobertos por bactérias da cabeça aos pés, por dentro e por fora do campo. Elas se alojam em nossa pele, cobrem olhos e bocas e se multiplicam em nossos órgãos, excedendo em muito, o número de nossas próprias células. Ainda que algumas sejam nocivas para o organismo, grande parte delas  não só ajuda, como é fundamental para ao aprimoramento do nosso sistema imunológico.
   Para muitos  pesquisadores, o estilo de vida moderno, tão asséptico, diminui nossa exposição a muitos micro-organismos, impedindo o nosso corpo de aprender, corretamente, quem são os verdadeiros inimigos a combater. Isso causa uma confusão nas nossas células de defesa,  que podem passar a reagir violentamente  (na forma de uma alergia) a coisas que não nos causam mal, como um amendoim, uma flor ou até mesmo o pó.
   Chamada de “hipótese da higiene”, essa teoria já existe há algum tempo e ainda causa alguma controvérsia no meio acadêmico, mas estudos recentes têm se unido a uma gama de pesquisas que convergem nos resultados. ( JACQUELINE SORDI  ( RBS )

Monitoramento

SEM  BACTÉRIAS,  SEM DEFESAS

   Um dos últimos estudos sobre alergias foi conduzido pela Universidade de Helsinque, na Finlândia. Para demonstrar que a falta de contato com a natureza poderia estar contribuindo com o aumento do número de pessoas asmáticas, alérgicas e portadoras de outras doenças
inflamatórias,  pesquisadores  monitoraram os hábitos de vida de 118 adolescentes no leste do país. Como resultado,  encontraram que aqueles que viviam em regiões mais verdes, como fazendas ou próximos de florestas, tinham maior diversidade bacteriana na pele e menor sensibilidade a alérgenos do que adolescentes que viviam em áreas urbanas. As conclusões, publicas na revista científica Proceedings of the National Academy os Scienses  ( PNAS ), somam-se a diversas pesquisas que seguem a mesma linha . “Já se sabe que o fato de não apresentarmos infecções tão freqüentes, como antigamente leva nosso sistema imunológico a não desenvolver células reguladoras, que inibem tanto as alergias como as doenças autoimunes. Essas reações que observamos hoje, são manifestações de um sistema desregulado, menos tolerantes a fatores externos – complementa o alergista Momtchilo Russo, consultor da Sociedade Brasileira de Imunologia.

IMUNE

PARTO CESÁREA  NA MIRA DA PESQUISA


   Para deixar o sistema de defesa do corpo mais esperto – ou, como dizem os especialistas, melhor regulado – não só os primeiros anos, mas os primeiros minutos de vida são fundamentais. Pesquisas recentes indicaram que o aumento no número de cesáreas  pode estar contribuindo , e muito, para a maior incidência de alergias. Isso porque as crianças que nascem de parto normal entram em contato com as bactérias presentes no canal vaginal, que são importantes para fortalecer o sistema imunológico e ser a primeira proteção contra as alergias. Foi o que demonstrou uma pesquisa publicada neste ano na revista científica Cell Host & Microbe, que analisou amostras de fezes de 98 bebês suecos durante seu primeiro ano de vida. As crianças nascidas por cesarianas tinham bactérias intestinais menos parecidas com as de suas mães do que os nascidos por via vaginal. “Aquelas bactérias que inicialmente colonizaram o intestino e ajudam a regular o sistema de defesa da criança são derivadas da mãe. A forma como nascemos e como nos alimentamos nos primeiros anos de vida vai determinar o nosso microbioma, ou seja, as bactérias com as quais conviveremos ao longo da vida”, explica o alergista e imunologista Giovanni Marcelo di Gesu. ( Página 7, publicação do JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira,  22 de junho de 2015).         

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