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quarta-feira, 20 de maio de 2015

RESQUÍCIOS DO QUE PASSOU



   Estive pensando sobre o que passa por nós. Sobre o que nunca voltou – mas sempre vai voltar  às vezes. Mesmo que você nem perceba.
   É com o caminhar na lama – ou na neve, se quiser. Você já passou por tal caminho, mas lá ficaram tuas pegadas, tuas marcas. Por mais que possa nevar novamente, você passou por ali, e nada poderá mudar isso.
   Deixam marcas, como uma cicatriz. Deixam marcas, como o assoalho que molhou certa vez e a sombra da água que repousou lá por certas horas,  permanece.
   Lembro-me de um texto que li alguns anos atrás, aleatoriamente. Era sobre um moço que havia passado por três namoros – e cada um deixou sua lembrancinha. Não eram cicatrizes. Eram manias que ficaram.
    No primeiro namoro, infantil, aprendeu observando a amada nas salas de aula a fazer um certo nó quando escrevia o L.
   No segundo, já adolescente, namorou uma moça que vivia no mundo dos livros e tomou o gosto de frequentar  bibliotecas.
   No terceiro, enroscou-se por certos meses com uma rata de academia, sujeitando-se a vida sobre as esteiras.
   A namorada atual amava o seu nó no L, seu gosto literário e seu porte físico.
   Sua namorada amava o resquício de outras.
   Somos resquícios do que passou por nós – e nem preciso relacionar ao namoro. Sou produto do que aprendi com todos, desde os professores do maternal  aos meus amigos do colegial. Sou resultado das conversas que ouvi, das pessoas que observei  e dos autores que li. Até agora.
    Somos  conseqüência dos outros. Amar alguém é amar mil pessoas numa. É amar um caminho  cheio de pegadas.
   Somos influências do tempo, do que assistimos,  das relações que temos, das nossas crenças, das nossas músicas.
   Nascemos com uma cor indefinida. Logo, as tintas dos outros se misturam com a nossa.
   Viramos arco-íris. ( Texto escrito por AMANDA MARIA DAMASIO TEIXEI
RA, estudante em Ibiporã, espaço  CRÔNICA, pág 3, caderno FOLHA 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 20 de maio de 2015).

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