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quarta-feira, 13 de maio de 2015

GREVE DOS PROFESSORES; EU NÃO QUERIA ADERIR


   Eu não queria aderir à greve. Eu entendi que fraquejamos ao interromper a primeira greve, mas, na terça-feira já estava me sentindo um traidor e resolvi aderir ao movimento.
   Vi cenas e depoimentos de colegas que forma à Curitiba para defender nossos direitos e muitos sangrando e chorando.
   Senti vergonha. Vergonha da postura do governador e de todos aqueles que o apoiam. Vergonha da Polícia Militar. Vergonha ao ver educadores, mais uma  vez, sendo tratados como bandidos.
   O que vi meu causou tanto impacto que não pude segurar as lágrimas. Chorei não só pelos ferimentos físicos causados a professores  e funcionário da Educação, mas, pelos ferimentos da alma. As feridas do corpo se curam, mas as da alma permanecerão.
   Diante de nós se expunham as contradições de tudo o que acreditamos e ensinamos: de que vivemos num País democrático, de que a Polícia existe para ajudar e não para espancar, de que ninguém deve ser tão cego em obediência a um ser humano, sem um censo crítico, pois ali estavam  os policiais fazendo exatamente o contrário.
   Meu Deus, pensei, como vou ensinar os meninos e meninas de que os governos estão lá para proteger  o povo?  Como vou dizer aos meninos e meninas que não precisam temer a polícia porque ela existe para nos proteger? Como vou, ao menos, falar de democracia, de escola democrática, de gestão democrática, quando aquele que deveria ser um dos nossos melhores exemplos de atitude democrática só sabe usar a força policial para justifica sua incapacidade de dialogar e suas atitudes desonrosas?
   Creio  que ainda podemos aprender muita coisa com tudo isso. Creio que ainda poderemos mostrar os vídeos e as fotos aos alunos e ensinar-lhes que não somos nós a massa da manobra.
   Podem falar mal da Dilma.  Mas,  uma coisa não podemos negar: ela nos deu exemplo de postura democrática. Suportou centenas de milhares protestando nas ruas, suportou o panelaço, sem precisar espancar ninguém, sem usar bomba ou cassetete, ou tropa de choque, ou gás lacrimogênio.   
   O governador do Paraná não suportou 5 ou 10 mil professores .
   Eu gostaria muito de saber se ele tem consciência, se vai dormir bem à noite.
   Eu gostaria de saber o que os policiais sarados de mente doentia irão dizer para seus filhos se um dia eles  perguntarem : “Pai, você bateu na minha professora?”
   Sim, porque aqueles que foram espancados poderão dizer ao seu filho: “Sim filho, eu apanhei e  fui humilhado porque acredito na democracia, no diálogo e no bom senso e irei defender tudo isso com minha vida, se for preciso. ( Texto escrito por ANTONIO CARLOS SILVA MOURA, mestre em Educação, pedagogo da rede de ensino estadual e professor de Didática na Faculdade de Astorga  (FAAST), página 2, caderno FOLHA 2, espaço Crônica, publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 13 de maio de 2015).

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