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domingo, 17 de maio de 2015

DA GRAVATA AO SAPATO



   Casal amigo vai casar,   vamos ser padrinhos  e então Dalva disse que tenho de comprar terno novo.
- Mas, Dalva, eu quase não uso os  que tenho!
   - Por isso mesmo! Em vez de usar de novo uma daquelas velharias, doe os ternos velhos, renove-se com o terno novo! E você vai ser padrinho , ir de roupa velha é como dar um presente sem estar embrulhado para presentear.
    Me convenceu, até porque ela já tinha escolhido um terno para mim, “passando casualmente por uma loja”.  Só falta eu ir lá experimentar para os devidos ajustes.
   - E aí você escolhe uma gravata, mas sem mas sem enfeites nem desenhos  nem estampas, uma gravata clássica, tá?
   - Mas, Dalva, eu não sou clássico, no máximo jurássico e, além disso, só quero ser simples!
   - Exatamente, tudo que é clássico é simples. Até já deixei lá selecionadas umas doze, pra você escolher a
   -A?
   - A gravata que vai combinar com o terno e os sapatos novos.
  Aí falei não, não vou sofrer com sapatos novos, meus velhos sapatos parecem novos e não me apertam. Mas ela disse que, por isso mesmo, devo ir logo à loja, para ir usando e  laceando os sapatos novos.
   - E não esqueça de abotoar a camisa no colarinho,  para ver se não aperta.
   - Camisa? Mas aí no guarda-roupa tenho uma dúzia de camisas que não uso!
   - E todas apertam no pescoço, porque você sempre comprou sem experimentar direito. Agora faça essa gentileza a você mesmo, use gravata sem se enforcar com a camisa. E doe essas camisas velhas para o asilo,os velhinhos vão se achar o máximo de camisa social , e o guarda-roupa vazio vai ser como um anúncio de renovação de vida!
   Concordei, mais para não desinflar o entusiasmo dela, que me deu um beijo, abraçando pela cintura e, talvez por isso, lembrou:
  - E não esquece que o cinto novo tem de  combinar com o sapato!
  - Cinto novo?
   - Claro,  - me olhou com terna piedade – Sapatos novos, cinto novo! Senão é como você comprar um carro novo e colocar pneus velhos!
   Receoso dela  lembrar das meias, tentei encerrar a conversa, ou melhor, a negociação, perguntando se ela tinha ideia do custo disso tudo, da gravata aos sapatos, e ela abriu os braços e um baita sorriso:
   Não é custo, meu amor, é mostra de apreço pelos nossos amigos, e investimento de confiança na beleza e no futuro! Eu posso ate ainda te enterrar com esse terno!
    Aí me convenceu. Só não posso deixar de fazer ginástica para não engordar. Já pensou se lá no futuro , quando finalmente for justificar o investimento, eu não couber no terno? Então vamos às lojas, antes que ela  lembre das meias e das cuecas. ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, página 21, espaço  DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br  publicação  do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 17 de maio de 2015).

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