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sexta-feira, 3 de abril de 2015

TRÊS HORAS


   Tenho uma amiga, talentosa artista, que enfrentou  sérios problemas para se formar na universidade por causa da perseguição de um professor militante. Ela conseguiu superar as dificuldades seguindo a  recomendação de Jesus no Sermão da Montanha: “Eu, porém,  vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,  orai pelos que vos maltratam  e perseguem”.  Ela rezou pelo professor e tudo acabou bem.
   Por motivos que não cabe discutir aqui, o Natal tem sido uma data mais comemorada do que a Páscoa. Amo imensamente o Natal, mas sei que a Páscoa está bem acima. É a mais importante festa do cristianismo.  Nascer, todos  nascem.  Mas ninguém consegue renascer sem Deus. A Páscoa nos chama a fazer o mais difícil. Não apenas a viver, mas a nascer de novo. Não apenas a amar quem nos ama, mas a amar quem nos odeia. Note-se  que Jesus não nos proíbe de ter inimigos; ele “apenas” nos diz que devemos amá-los e rezar pela salvação deles. Como bem lembrava C. S. Lewis, ser cristão não é fácil. Quem acha que é mole se dará mal. Oscar Wilde dizia que devemos perdoar sempre os nossos inimigos – nada os enfurece mais. Nelson Rodrigues dizia que o inimigo permanece fiel até depois da morte – é aquele que vai cuspir no túmulo da gente. Os dois geniais escritores sabiam o que estavam falando, pois tiveram terríveis experiências com a inimizade. No fundo, eles estavam seguindo o conselho de Jesus.
   Como se sabe – e lembramos especialmente hoje, Sexta-Feira da Paixão – Jesus sofreu muito mais com seus inimigos. Mas tenho absoluta certeza de que ele rezou por todos eles: Judas, Caifás, Pilatos, Herodes, o Mau Ladrão, Barrabás, os que o condenaram,  os que o açoitaram , os que o ridicularizaram , os que o negaram, os que lhe deram vinagre e lhe feriram o coração com a lança, os que até hoje fazem o mesmo.
   A Paixão de Cristo ér a prova máxima de que Deus não é uma abstração ou uma força inacessível. Ele é uma Pessoa. Toda a nossa existência está condensada naqueles três anos  e naquelas três horas. Por isso, orai pelos vossos inimigos. Eles não sabem o que fazem. ( Texto escrito por PAULO BRIGUET, publicado pelo JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira,3 de abril de 2015, extraído da página 11, espaço Dia de Crônica Paulo Briguet   briguet@jornaldelondrina.com.br  WWW. Jornaldelondrina.com.br/ blogs/comoperdaodapalavra).

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