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domingo, 19 de abril de 2015

NOTÍCIAS DA CHÁCARA






     FLAMBOIÃ  é exposição viva da natureza. Desfolha-se no inverno, reenfolha-se na primavera e, quando flore, numa mesma rama vemos flores abertas e flores ainda em botão, ao lado de vagens secas e escuras do ano passado e novas vagens verdinhas. Além disso, é um parque de parasitas, com musgos e liquens que parecem mortos, de tão secos, mas basta uma chuvinha e reverdecem, tão resistentes quanto jubilantes.  Abriga pássaros, de vez em quando um pica-pau com seu toc-toc animado E sustenta uma corda pendurada num galho, o “balanço do Tarzã” dos netos. É mais que uma árvore, é uma comunidade.
DESCONSOLO  e decepção com os serviços públicos é norma nesta república. Na vizinha  rua Massao Ouya, tem poste com lâmpada acesa de dia, há meses, Já notificamos a Copel, duas vezes, e depois a Sercomtel, e a lâmpada continua acesa. Quando comunicamos, sempre pedem que a gente anote o protocolo, parece um modo de dizer que o serviço não será  efetivado, apenas protocolarmente anotado. E pedem tua identidade, o teu endereço, e o endereço do poste. Mas a rua só tem um quarteirão e só três postes. E a notificação já somou três protocolos. E a lâmpada continua acesa. Protocolarmente e realmente acesa, símbolo de descaso.
MANDIOCAS  só nos dão satisfação. Este ano estão maiores, decerto porque não tiveram de enfrentar seca. Dalva adora colher e descascar, dizendo que mandioca lembra sua infância no Distrito da Selva. Fazemos mandioca frita uma vez por  quinzena , e comemos também com salada, cozida e regada com azeite e ervas, e até assada, embrulhada em papel alumínio para acompanhar qualquer tipo de carne, mandioca só não combina com frutos do mar. E inventamos purê de mandioca: bem cozida, amassar com garfo, daí misturar com cebola picadinha frita na manteiga, acrescentar leite ou creme de leite, queijo ralado e manjericão , mexer bem, regar com azeite e tentar comer com moderação.
BRAVO está ficando grisalho no lombo. Esperamos pé de atemoia dar as primeiras flores. Fizemos podas, temos lenha para as fogueiras do inverno. Antúrios mudam  de cor conforme o vaso muda de lugar. Tudo muda, tudo transa, tudo caminha. A chácara é barco no mar do tempo.
BEIJA-FLOR  entra pela janela, talvez porque enfeitamos o almoço com muitas flores, e paira voejando acima da mesa, todos os talheres paralisam. O bichinho zune, voltejando  acima das cabeças como se escolhendo quem bicar, daí zum, sai chipando por outra janela: lá fora  as flores tem néctar, aqui são só enfeite.

VERÃO,  dormimos com o janelão do quarto aberto. Outono  e primavera, a  pedido de Dona Bexiga levanto no meio da madrugada, visito o amigo Vaso, depois fecho o janelão.  Inverno,  dormiremos com o janelão  fechado e, nas noites mais frias,até com suas vidraças fechadas. A casa é um ser vivo, as janelas são olhos e narinas, as portas são bocas, o fogão é o coração, a sala é o pulmão e varanda é a primeira a receber nossa mais freqüente visita, o vento. Casa, te amamos/do assoalho  às telhas/do fogão ao chão/que comungamos. ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, página 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI  d.pellegrini@seromtel.com20.br  publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 19 de abril de 2015).

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