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terça-feira, 24 de março de 2015

SABEMOS RESPEITAR AS OPINIÕES?


   A crise política que assola o País e que desencadeou as últimas manifestações  mostra que a população está atenta e disposta a lutar por uma nação mais justa e honesta.  Esse movimento, por sua vez, também desperta o olhar para outros pontos, como a intolerância, e nos coloca a dúvida sobre a capacidade de dialogar. Nós respeitamos a opinião do outro?
   Observamos que o uso das redes sociais tem ampliado a expressão de diversas opiniões de cunho político, econômico, religioso, entre outros, muitas vezes sem que sejam avaliadas as conseqüências disso. Atrás do computador, tablet ou celular, as pessoas se comportam de forma mais corajosa para emitirem suas idéias. O resultado, não raro, é a falta de respeito, de diálogo e compreensão sobre o ponto de vista do outro. Como seria nosso dia a dia se as pessoas falassem ao vivo umas para as outras tudo o que dizem nas redes sociais quando há divergência de opiniões?  Seria o caos.
   Estando a favor ou não, cada um tem o direito de manifestar o seu descontentamento, desde que isso não gere ódio, a irracionalidade e a exclusão, nem deteriore  o ponto de vista do outro.
   Sob a influência  das redes sociais, hoje é mais fácil as pessoas se juntarem àquelas que pensam da mesma forma, e isto faz com que estes grupos ganhem força e polarizem a discussão:  De que lado você está?
   Se  está do lado A, corre o risco de ser criticado ou aplaudido, assim como se você estiver do lado B. Se não há concordância com nenhum dos lados, será criticado por não ter um posicionamento.  Porém, a tomada de decisão sobre “de que lada está” deve acontecer com muito diálogo, reflexão e conhecimento sobre o assunto.
   Para o bem-estar coletivo, é importante estar disposto a ouvir todas as opiniões, independente da sua. Este procedimento é importante na medida em que, embora o outro possa divergir de suas idéias, poderá haver contribuições e entendimento sobre a  sua forma de ver o problema. Desta forma, é possível manter o respeito e o bom convívio, diminuindo a freqüência de comportamentos que incitam o ódio e a exclusão.
   Saindo das redes  sociais e vindo “para o mundo real”, estimular conversas difíceis ao vivo pode gerar desentendimentos, mas também é o caminho para aprender a respeitar a idéia do outro. É importante, sim, que as pessoas conversem mais ao vivo, frente a frente.
   Acima de tudo é conveniente que cada cidadão reflita que opiniões e idéias, sejam elas quais forem, são formadas a partir de uma  história de aprendizagem, e o que torna a opinião do outro diferente da sua são formas singulares de se relacionar com o mundo. A  cada história de vida, uma opinião a respeito de uma determinada causa é formada, e para entender a construção desta opinião,  o ouvir o outro se mostra essencial. Aponte seu ponto de vista, mas esteja aberto a ouvir críticas e elogios, e reflita que sua idéia está bem embasada por conta da sua história, e que sua experiência pode ser diferente da experiência do outro.
   Discordar é importante e válido e faz parte da nossa democracia. São os diversos pontos de vista que fazem nossa sociedade caminhar para frente. Uma cultura que preserva o respeito não é aquela em que todos os seus membros partilham das mesmas idéias, mas a que sabe conviver com as diferenças de pensamento, de valores de vida e de crenças.

   O filósofo Voltaire já havia dito: “Não concordo absolutamente com o que você diz. Mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizê-lo”. Isso cabe muito bem ao momento que vivemos. ( Texto escrito por CARMEN RAZENTE CANTERO, psicóloga no Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento  ( PsicC) em Londrina, extraído do  Espaço Aberto, pag 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira, 24 de março de 2015).

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