Páginas

terça-feira, 17 de março de 2015

NÓS, O POVO



   Durante muitos anos, a palavra povo esteve nas mãos de seus seqüestradores.  Até bem pouco tempo atrás, só podia usá-la quem era companheiro da esquerda. Mas os escândalos do governo acabaram por destruir esse cativeiro semântico. Hoje as pessoas são livres para dizer:
 - Nós somos o povo. Não precisamos mostrar a carteirinha do partido  nem a estrelinha no peito.
   O povo somos nós. Somos nós que trabalhamos,  que estudamos, que criamos filhos, que amamos nossas famílias, que pagamos impostos, que fazemos compras no supermercado, que abominamos o roubo, o crime e a chantagem. Somos nós que não temos privilégios, que nunca tivemos  milhões ao nosso dispor, que não ajudamos as pessoas só para conquistar os seus votos e as suas consciências. Fazemos o bem sem esperar nada em troca. Somos nós, o povo. O povo é o comerciante que fechou as portas. É o trabalhador que perdeu o emprego. É o eleitor da Dilma que se sentiu enganado. É o eleitor do Aécio que se sentiu ofendido. É o eleitor da Marina que se sentiu violentado. O povo é o aluno que ficou  sem aula, é o funcionário público que trabalha com afinco, é o padre que tenta levar as almas  para o Céu. O povo é o advogado que defende a lei, o jornalista que diz a verdade, o engenheiro que constrói casas, o médico que salva vidas, a enfermeira que cuida dos doentes. O operário que opera. O camponês que semeia. A mãe que ama.
   Rita é o povo. Altas horas da noite, ela ligou para a nossa casa pensando que era p CVV. Chorou, chorou, chorou. Disse que estava sozinha no mundo, que havia perdido seus pais. E a Rosângela a ouviu com atenção. Depois ficou pensando nela. Rita e Rosângela são  o povo.  Elas não estão sozinhas.
   O povo não pertence a movimentos sociais, não está filiado a partidos, não acredita em promessas de campanha.  É formado por aqueles que sofrem o poder, não os que o exercem.  Quando penso em povo, penso no meu bisavô Costa, abandonado criança no Brasil, depois maquinista de trem. Penso no meu avô Briguet, juiz de futebol  e  pintor de carros. Penso em meu pai bancário e minha mãe professora.  Todos já se foram. Penso em quanto eles lutaram e sofreram para que eu estivesse aqui, escrevendo estas palavras e dizendo   - Eu também sou povo.  ( Texto extraído do espaço Dia de Crônica PAULO BRIGUET, página 5, publicação do JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira, 16 de março de 2015).   

Nenhum comentário:

Postar um comentário