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domingo, 1 de março de 2015

PENITÊNCIAS MODERNAS




     Quaresma é tempo de penitência, renovação, restauração. Proponho algumas penitências  próprias para quem vive e sobrevive na cultura moderna. São penitências libertadoras, saudáveis humanizadoras, necessárias.
     1. Libertação da dependência dos aparelhos eletrônicos.  Somos reféns e escravos do celular, da internet, da televisão, etc. Estes meios de comunicação virtuais são magníficos e realizaram uma revolução sem igual. Mas todos nós constatamos que o mau uso dos  mesmos oferece muita imoralidade, exploração, escravidão, dependência. Quem renuncia se torna livre. Renunciemos  ao que nos escraviza. Quaresma é libertação.
     2. Cortesia no trânsito. A tecnologia virou ídolo. Resolveu grandes problemas e trouxe estresse, depressão, doenças modernas e influenciou a cultura da morte. Penitência aqui significa desfazer-se de veículos desnecessários, usar os meios públicos de transporte, caminhar mais. Todavia a cortesia no trânsito é  uma possibilidade de humanizar, suavizar e solucionar problemas crônicos que nos adoecem, empobrecem socialmente e psicologicamente.
     3. Saber silenciar. O barulho, a agitação, a dissipação nos obrigam a viver uma vida fragmentada, agressiva, doentia. Até o sono, a afetividade, a sexualidade são significativamente  prejudicadas.  Saber parar, saber descansar, saber meditar é um remédio, uma solução prática, uma atitude sábia em favor da saúde, da paz, da boa convivência e da alegria de viver.
     4. Equilibrar família e trabalho. Somos portadores de doenças típicas do mundo  do trabalho. É o que se chama “síndrome da fadiga”, ou seja, esgotamento, apatia, vazio, desânimo, frustração. Sei que esta penitência é muito exigente.  Sem este equilíbrio nós podemos ter sucesso no trabalho e fracasso na família. O lazer é um dever. Sem mudança de hábitos e de mentalidade, seremos arrastados pelo consumismo que nos consome e desestrutura a família. Dá a impressão                 que enlouquecemos.  Que o Espírito  Santo nos ajude a discernir e decidir. Demos primazia à família
     5. Mudar o hábito alimentar e fazer exercícios. Convivemos com a fome, a obesidade e o desperdício. Sem  mudar hábitos alimentares seremos candidatos à internação hospitalar e celebrar com a cultura da morte. A tentação do consumismo e da gula, por outro lado, provocou a ditadura da “magreza que é outro problema grave. Quão sábio é Jesus quando nos ensina o jejum.
     6. Cuidar da mãe terra e da irmã água. O  homem inteligente passou a ser demente pela destruição do meio ambiente. Secas,  queimadas, desmatamentos fazem a gente morrer de sede e morrer afogado nas fúrias do mar. A vida virou cálculo, lucro, dinheiro. Resultado disso tudo é que somos uma geração emocionalmente desequilibrada e culturalmente depredadora. Com o escreve um grande teólogo: “O homem virou satã de si mesmo e da vida”. Temos mil maneiras de salvar a mãe terra e a irmã água e todas as criaturas. Façamos da terra nossa casa comum e o jardim desejado pelo Criador.
     7. A conversão pastoral. Eis uma penitência urgente e necessária. Não podemos  permanecer na mesmice e na acomodação pastoral. O papa Francisco nos convida à conversão pastoral através da Igreja em saída. São muitas as saídas. Primeira:  sair de si e ir ao povo, às  periferias. Segunda: sair de casa e visitar as famílias. Terceira: sair da sacristia e abraçar a realidade sofrida do povo. Quarta: sair da  diocese, da paróquia para outras regiões como por exemplo a Amazônia. Quinta:  sair para outros continentes , é a missão além fronteiras. Sexta: sair da cultura pessoal para a inculturação em outras realidades. Sétima sair da zona de conforto, para a doação de si, o martírio e a própria mort
e, ( Texto de DOM ORLANDO BRANDES, arcebispo de Londrina, extraído do  ESPAÇO ABERTO, página 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 1 de março de 2015).

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