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segunda-feira, 9 de março de 2015

PAZ É DESARMAR-SE



   Não me refiro aqui ao desarmamento  bélico  tão necessário e tão desrespeitado pelas nações. Falo do desarmamento do coração. Sem abrir as portas do coração e sem a cura de suas feridas,  a paz não se concretiza. O desarmamento interior é o segredo do sucesso  da paz. Eis os principais desarmamentos interiores.
   Primeiro: desarmar a memória.  As recordações das injustiças, agressões, humilhações alimentam em nós a raiva, a vingança, o ódio. Essas recordações precisam de cura para não entrarem  em ação no nosso cotidiano. O remédio de cura da memória é o perdão, que requer humildade e compreensão.  Deus é o médico mais indicado para essa cura. Sua receita é a oração, o perdão, a compaixão para quem nos ofendeu. Assim, nossos algozes se tornam nossos artistas. Graça transforma o mal em bem.
   Segundo : desarme as emoções. O perdão emocional é um remédio amargo, mas tem o poder de curar e ordenar nossas afeições feridas e desordenadas. Sem a redenção das emoções, nossos planos, idéias  ideais  se quebram, fracassam,caem. A emoção, as paixões, os sentimentos nos movem e levam para onde não queremos. São estopim para a briga, a discórdia, a agressividade.
   Os remédios devem ser tomados a saber: oração, retiros, direção espiritual, acompanhamento, exame de consciência e outros. Quando, porém, tivermos paciência e usarmos palavras de ouro como: por favor, com licença, desculpe, parabéns, coragem, obrigado, estaremos criando condições  e ambiente de paz.
   Terceiro: desarmar as mentes. Só uma mudança de mentalidade e de estilo de vida poderá construir a cultura da paz. Submeter todo pensamento ao Evangelho é o que entendemos por conversão. O cristianismo é um verdadeiro humanismo. É urgente desarmar a mentalidade comunista, economicista, racista e antiecumênica.  O diálogo interreligioso, o ecumenismo, as religiões são forças de paz. Para construir a paz duradoura, é  necessário a superação da fome, do racismo, da intolerância, do analfabetismo, da idolatria do dinheiro. O preço da paz está na superação das causas da violência.
   Quarto: desarmar o estilo de vida e de mentalidade. O homem tornou-se inimigo da vida, criou a tecnologia da morte, já não é mais um homem sábio, mas demente. A demência, a irracionalidade, a perversidade impulsionam à brutalidade. Pela violência ironizamos a verdade, fazemos da guerra  um  espetáculo, adotamos o vale tudo , invertemos os valores, enlouquecemos. É urgente o desarmamento da mentalidade comunista e do poder econômico.
   O Ano da Paz nos leva a acreditar na força revolucionária da ternura, no poder da cordialidade, na potência da mansidão. Os mansos possuirão a  terra. Dom Pedro Casaldáliga, escreveu um belo e profundo poema sobre a “paz inquieta” que denuncia a paz dos lucros fartos, da rotina e do medo. A paz inquieta não nos deixa em paz porque ela quer a derrota das armas. Da fome, das desigualdades sociais.
   Shalom, ( paz ) é harmonia, perdão, abraço, ternura, convivência. Os povos andinos ensinam os sete caminhos da paz: o primeiro é a paz para trás,  aisto é, com nosso passado; o segundo ´´e a paz para a frente: com as gerações futuras; o terceiro á paz para o alto: com Deus; o quarto é a paz para baixo: com o ambiente onde se vive; o quinto é a paz para a direita: com os vizinhos; o sexto é a paz para a esquerda: com a família; o sétimo é a paz para dentro : consigo mesmo.
   Exímio profeta da paz é o papa Francisco. Ele foi o mediador da paz entre Cuba e os Estados Unidos. Na viagem  apostólica à `Turquia  e  à Ásia proclamou que Deus não faz distinção de raças, de credos, de tribos, de condição social ou religião. É fundamental para a paz o diálogo, a proximidade, a ternura. Para estabelecer o reino da paz, é preciso gritar: Não à exclusão; Não á indiferença; Não à desigualdade social; Não à idolatria do dinheiro;   Não à cultura da morte; Não à depredação do Meio Ambiente”. Eis o grito profético do papa Francisco pela paz.  ( Texto escrito por DOM ORLANDO BRANDES,  arcebispo de Londrina, extraído da pág 2,  ESPAÇO ABERTO, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 8 de março de 2015)

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