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sábado, 24 de janeiro de 2015

MAMANGAVA



     Como costumo fazer nas manhãs de sábado, estava na varanda da casa lendo a Folha de Londrina quando ouvi gritos que vinham da cozinha. Corri para lá e me deparei com as sobrinhas Moriah, Júlia e Gabriela que, assustadas, tentavam fugir de um bicho, que para elas  era “ feio e peludo”.
     Por ter sido criado no interior, bem junto da gente da roça, tenho algum conhecimento sobre plantas e animais, por isso é difícil que eu assuste com algum bicho na cidade. Mesmo assim, fiquei curioso para saber o que se passava.  De início, não dei muita atenção ao fato, porque poucos dias antes as mesmas crianças tinham feito um enorme alvoroço, avisando aos berros que havia uma cobra no quintal. Quando fui socorrê-las, vi que se tratava de uma cobra-cega, também conhecida como cecília ou minhocuçu, que é apenas uma minhoca graúda que vive embaixo da terra e por essa adaptação ao ambiente subterrâneo perdeu a capacidade de enxergar. Embora pareça cobra  é um animal inofensivo, que as pessoas por medo ou ignorância geralmente acabam matando, assim como fazem com louva-deus e o bicho-pau.
     Mas voltando ao bicho feio e peludo, quando consegui  localizá-lo, notei que se tratava de uma abelha mangava. As meninas tinham feito suco e derramado um pouco sobre a pia, então expliquei a elas que o açúcar deve ter atraído a abelha para dentro de casa. Nisso a abelha saiu de seu esconderijo no canto da janela e passou zunindo quintal afora.
     Mesmo não sabendo muito sobre abelhas aproveitei  para dizer às meninas que as mangavas,  também conhecidas como abelhão ou mosca de rodeio (ficam  rodando sobre as flores), são muito dóceis e não costumam atacar as pessoas. Mas a exemplo de outras espécies de abelhas, podem agredir o homem ou animais quando se sentem ameaçadas. A ferroada da mangava é doída, deixando uma marca por vários dias. É uma abelha maior que as abelhas comuns, medindo em torno de três centímetros, seu dorso é realmente peludo, com coloração preta e  amarelo ou alaranjada.
     Aproveitando que as sobrinhas passaram o dia e minha casa e estavam interessadas pelo assunto, continuei falando que as mangavas se alimentam de néctar, são excelentes polinizadoras da cultura de maracujá, contribuem para a reprodução de outras plantas e sua presença em jardins e pomares é muito importante.
     No final da tarde, quando a mãe veio buscá-las, elas contaram que tinham aprendido sobre a abelha mangava. Minha cunhada gostou da história e disse que todos os seres têm sua serventia na natureza e que se as pessoas conhecessem melhor e respeitassem mais os animais, todos viveriam melhor.
     E eu concluí que a mangava deixou meu sábado mais doce... ( Texto de GERSON MELATTI, leitor da FOLHA, EXTRAÍDO DO ESPAÇO DEDO DE PROSA,  Folha Rural, página 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 24 de janeiro de 2015).

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