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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

EMPATIA, PSICOPATIA E PRIMEIRA INFÂNCIA

 

Creio que a sensibilidade aflorada pela passagem dos festejos natalinos tenha motivado a FOLHA a nos brindar no dia 28 de dezembro  um primoroso artigo intitulado “O caminho para a empatia”, do professor/doutor Luís Miguel  Luzio dos Santos( Espaço Aberto), uma entrevista com a psicóloga/professora Paula Inez da Cunha Grande, sob o tema “Psicopatas também são vítimas”, e, por fim, nas páginas 7 e 8 com duas reportagens que tratavam da primeira infância, fase que vai do nascimento até os 6 anos. Três temas com enfoques diferentes, porém que mais que mera informação  jornalística, promovem uma reflexão sobre mudanças de atitudes necessárias para fazer uma sociedade mais justa e mais humanizada.
     Há muito reconhecemos que a primeira infância é primordial para a formação integral da pessoa e que os registros dessa fase repercutirão ao longo de toda sua existência. Quando os registros negativos são mais acentuados, podem gerar distúrbios comportamentais que interferirão de forma decisiva  nas atitudes e decisões da pessoa frente ao mundo. É assim para o cidadão comum,  mas também  o é para o psicopata, o dependente químico, o assassino, etc.
     O americano Carl Rogers, um dos mais influentes pensadores do século 20, educador e psicólogo humanista  (1902-1987), criador da “Abordagem Centrada na Pessoa”, afirmava que “todo ser humano nasce dotado de uma predisposição para a autorregulação.  Se não a atingir, é porque não encontrou no meio as condições propícias”. Colocava como a condição primordial  para a autorregulação a compreensão empática. Essa condição – somada a outras – quando experenciada em profundidade promove uma sensação de unicidade, de segurança e bem-estar psíquico, ao que ele chamou de congruência. Quanto mais congruente o  indivíduo, menores as possibilidades de desvirtuar-se.
     Na primeira infância, conforme a matéria jornalística enfatizou , ocorre em torno de 70% da formação do cérebro dos seres humanos, logo é fertilíssimo para se proporcionar as condições adequadas que formarão as bases para o futuro cidadão. A observação clínica dirigida por Roger mostrou que pessoas que foram compreendidas empaticamente  também desenvolveram empatia ( termo que significa “sentir-se dentro”, em referência a “sentir-se no lugar do outro”). . É uma condição regida por leis internas e que não pode ser falseada por convencionamentos sociais e regras. Uns a desenvolve em maior escala, outros em menor, mas todos podem  aperfeiçoá-la  com exercícios, conforme recomenda o artigo referido acima, com exceção para as pessoas profundamente incongruentes  como é o caso dos psicopatas, onde ela é inexistente. É mais presente nos terapeutas, professores, religiosos, assistentes sociais, profissionais da saúde, etc., não como fruto da formação, mas ao contrário, por ter sido a motivação que os conduziu à formação.
     Uma  sociedade mais justa, mais fraterna, logo, mias humanizada, requer pessoas com capacidade de demonstrar empatia. A violência gratuita presente no cotidiano das nossas cidades e até mesmo os atos de corrupção,  são oriundos da falta dela, que gera a ganância, egoísmo  e a insensibilidade com o sofrimento do outro. Mas aquele que é capaz de colocar-se no lugar do outro de forma profunda e compreensiva, não deseja o que não lhe pertence.
     Não ansiamos ter uma sociedade perfeita, mas reconhecemos que muitos danos sociais poderiam ser amenizados com um olhar diferenciado para a primeira infância, que tem se apresentado como fonte de todos os distúrbios, embora potencialmente seja a fonte de todas as virtudes. ( Texto extraído do ESPAÇO ABERTO, pag. 2, escrito por JAIR QUEIROZ, psicólogo clínico e pós-graduado em segurança pública em Londrina, publicado na FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira,14 de janeiro de 2015).
   

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