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domingo, 14 de dezembro de 2014

QUINTAL DA VOVÓ


     Eu  e minha irmã crescemos dentro de apartamento.  De vez em quando descíamos  para brincar com a criançada do prédio, mas eu, pelo menos, fiquei muito tempo em frente a TV quando era pequena.
     Minha alegria era passar os fins de semana na casa da avó, que morava na rua de trás. Lá fazia do varal uma rede para jogar vôlei com os primos, balançava na rede debaixo do barracão escutando a chuva cair, ouvia a vó cantar “mamãe polenta” para a gente correr e o lencinho na mão passa de neto a neto na roda. No mês de festa junina, subíamos no telhado para ver os balões no céu e cantávamos cantigas antigas, com a vó puxando o coro. E foi naquele quintal que comemoramos nossa primeira comunhão, quando a rua da casa da vó era ainda de terra. Naquela época, os aniversários tinham lanche de  carne louca e o bolo era branco com recheio de ameixa e cobertura de chantili e coco ralado e sempre tina uma rosa como enfeite
     Naquele quintal  tinha planta de todo jeito, porque a vó adora um vasinho. Tinha até uma jaqueira e uma laranjeira, que foram cortadas porque eram muito altas  e invadiam o quintal do vizinho. As rosas  do jardim da frente da casa eram tão cobiçadas por quem passava na rua, que vira e mexe um ou outro passava a mão  pelas grades do portão para surrupíar uma flor.  A vó tinha orgulho do roseiral e eu tenho orgulho de ter uma vó como ela.
     Pois ua paixão pelo verde – até hoje ela cultiva plantinhas em pequenos vasos e presenteia as filhas, netas, sobrinhas, amigas com samambaias lindamente frondosas – passou  para a segunda neta, minha irmã, que hoje é bióloga.
     Casada com um biólogo, eles decidiram que precisariam viver numa casa com um quintal grande. Não importava se a casa tinha um único quarto, se a sala e a cozinha eram um cômodo só, se as visitas teriam de dormir no sofá-cama. O importante era ter terra suficiente para eles cultivarem o máximo de plantas possível.
     E não é que deu certo. O pequeno refúgio do casal tem de tudo: de mamão a tomate, de manjericão a maracujá, de plantas ornamentais a lavanda. E tem o gato branco que se esconde no meio do mato que preserva  a umidade das mudas.
     Ela me contou que quando  viu o terreno, o marido decidiu que faria dele o “jardim da vovó”, que parece bagunçado à primeira vista, pelo tanto de planta que aglutina, mas que oferece um pouco de tudo que é preciso  para confortar, como boldo e hortelã,  por exemplo
    Do gramado abandonado à pequena  “ floresta” que se transformou a casa da irmã, pude perceber o quanto a natureza sabe ser generosa com quem lhe dá carinho. Ainda que sejam pequenos quintais floridos no meio da cidade grande.  ( Texto escrito por MARIANA GUERIN, jornalista da FOLHA, extraída do espaço dedo de prosa, pag 2, da FOLHA RURAL, publicado no jornal  FOLHA DE LONDRINA,  sábado, 13 de dezembro de 201    

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