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domingo, 21 de dezembro de 2014

NATAL DE OUTROS TEMPOS


     O meu Natal do tempo de criança. Lá pelos anos de 1960, era bem diferente do Natal  das crianças de hoje, mas tinha um encanto especial, do qual tenho umas lembranças muito boas.
     Uma delas era o presépio montado na igreja, simples, com uma graminha de alpiste previamente semeado para estar bonita e verdinha nesses dias, um laguinho feito com espelho e pó de serra em volta, animaizinhos, a família de Nazaré no centro, a estrela e os interessantes reis magos  Belchior, Baltasar e Gaspar.
     A missa do Galo era um grande mistério e eu nunca conseguia assisti-la. Dormia antes, sonhando e imaginando um galo enorme, penas coloridas, vestido de padre e todo paramentado para o Natal. Acabava a missa e ele ia embora, batendo as asas e voando para o céu. Em parte essa fantasia se devia a uma música cantada todos os  anos por uma dupla de japonesinhas nas apresentações do salão da igreja. A música dizia que “por ser dorminhoca você nunca há de  ver a missa de uma galinha choca, quem dirá a de uma padre... galo”!
     A missa acontecia nas “vésperas” do Natal, à  meia-noite, como contava a minha avó Luísa, incentivando a nossa fé ingênua e a nossa imaginação fértil. Como toda criança que brinca muito, ansiosa pela festa do Natal, ia dormir cedo, pensando e sonhando com o dia seguinte: esse sim,  era o dia!
     A manhã do Natal era a mais esperada  do ano todo. Se vocês pensaram que era pelo presente, enganaram-se. Esse costume eu conheci mais tarde e não tinha tamanha importância.
     Eu, meus  irmãos e primos levantávamos mais cedo e ganhávamos, cada um, uma garrafinha de guaraná , recipiente de vidro, com um “pescocinho”  torneado, e, é claro, apenas fresquinha, pois não havia geladeira em casa. Ficávamos contemplando a garrafinha na mão, sentindo por antecipação o prazer de saboreá-la no almoço, especialíssimo, quando minha avó fazia macarrão caseiro com molho de tomate salpicado com queijo  ralado e pastéis de carne com azeitonas. Um frango assado e recheado com farofa completava o cardápio de Natal. Após o almoço, doces caseiros. Quanto á garrafinha de guaraná, estava ainda mais quente, alguns não agüentavam  esperar e abriam antes, enchendo a barriga de líquido, sob os protestos das mães: não falei para não tomar antes? Agora não vai  comer direito...

     Aí a gente sentava para saborear aquela ceia maravilhosa, diferente, que acontecia uma v ez por ano, regada, com o já disse, a guaraná de garrafinha. Dávamos altas gargalhadas com meu avô Mário que, como bom italiano, não  dispensava  o vinho tinto de garrafão e as piadas. Era assim que a gente comemorava, com alegria e simplicidade, o nascimento do menino Jesus.  ( Texto escrito por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, espaço  DEDO DE PROSA, Folha Rural  pag 2,  publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado 20 de Dezembro de 2014), 

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