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sábado, 29 de novembro de 2014

O HOMEM DA CAPA



     Era comum, no interior, aparecer pessoas solitárias ou peregrinas que se instalavam na cidade e passavam a fazer parte do cenário. Cada uma apresentava uma característica própria, geralmente inusitada, e os moradores iam se acostumando e acolhendo aqueles indivíduos  tão singulares,   geralmente inofensivo
Lembro-me da Lucinda, do Guaraci,  do  Caveira ...  Porém  um.... o Homem da Capa, me marcou mais, talvez por ser criança, influenciada pelas histórias dos  meus avós, que  contavam do Saci Pererê – esta eles viram pessoalmente dando nó nas crinas do cavalo – da Mula sem  Cabeças e do Lobisomem.

     O Homem da Capa usava uma capa preta, de tecido grosso, daquelas usadas pelos tropeiros, com capuz estando frio ou calor. Dizima que ele virava Lobisomem  às sexta-feira, principalmente no tempo da quaresma. Não importava se era mentira ou verdade, o fato é que o Homem da Capa era o terror da criançada e acabava com qualquer roda de brincadeira.
     Era só alguém gritar: óia o veio  da capa” e a molecada sumia da rua e se enfiava mas casas. Servia até de pretexto  para os pais acalmarem seus filhos e mantê-los quietos, por algum te
     O Homem da Capa tinha nome, morava na cidade, tinha casa e tudo! Até sua mulher  era diferente: branquinha,  cabelos  encaracolados e curtos , pretíssimos , e o rosto empoado de Cashmere –Bouquet completando com um carmim bem vermelho colorindo os lábios finos
     Apesar do mito e do nosso medo infantil, nunca vi nada de anormal vindo dele. A vida continuou, eu cresci,  mudei--me para outra  cidade, esquecendo completamente essa figura misteriosa inventada pela nossa fantasia.
     Outro dia, depois de tanto tempo, ouvi  alguém dizer que o Homem da Capa havia morrido. Num instante, meu coração  se voltou para minha infância fantástica, as brincadeiras, as lendas e superstições  que foram se quebrando e desaparecendo com o passar dos anos.
     Então  imaginei, com certa nostalgia, o velho Lobisomem despedindo-se da lua cheia , numa sexta-feira da quaresma ...dando seu  último uivo! E depois, como acontece com os humildes e puros de coração, sendo carregado, suavemente,  para o céu. ( Texto escrito por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, leitora DA folha. Extraído do especo DEDO DE PROSA, da FOLHA RURAL, publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, Sábado, 29 de Novembro de 2014).

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