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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

NA IGNORÂNCIA OU POR IGNORÂNCIA?


     Em  seu livro “Ética a Nicômaco”, Aristóteles diferencia o agir na ignorância do agir por ignorância. Segundo o texto, uma pessoa que age por ignorância, age sem ter conhecimento das conseqüências  de seus atos e, muitas vezes, age sem mesmo saber o que lhe motiva as ações. Já o agir na ignorância, é compreendido como algo proposital, uma ação da qual a pessoa tinha consciência das possíveis  conseqüências  de seus atos.
     Por exemplo, Londrina já foi um grande polo cafeeiro. Imaginemos um trabalhador rural  contratado para borrifar pesticida no cafezal. Os pesticidas são tóxicos, no entanto, muitas vezes, o trabalhador não tem essa informação. Assim, o trabalhador rural (se não souber dos riscos dos pesticidas) age por ignorância, pois não tem conhecimento daquilo que faz e suas possíveis conseqüências.
     Já no caso do proprietário que contratou o trabalhador para borrifar o pesticida, é provável que ele conheça  os danos que os pesticidas fazem à saúde humana e ao meio ambiente. Se ele escolhe utilizar o produto sem oferecer proteção adequada aos funcionários, age na ignorância, pois conhece os riscos envolvidos e, mesmo assim, escolheu fazê-lo.
     Nos últimos dias, nortistas e nordestinos vêm sofrendo uma onda de ataques xenofóbicos, principalmente da população do Sul do País e dos paulistas. Pois bem, é de se questionar:  esses xenófobos agem por ignorância ou na ignorância?   Nesses casos, acredito que  a maioria das pessoas age tanto na ignorância quanto por ignorância.
     Por ignorância porque desconhecem a própria realidade de seu país. Desconhecem as condições de vida da população nortista e nordestina. Não conhecem a importância dos programas governamentais  para oferecer o mínimo de condições dignas para aquelas pessoas. Assim, agem por ignorância, pois seus ódios não são apoiados em fatos reais. Ao mesmo tempo, agem na ignorância por saberem que seus atos, seus preconceitos, podem prejudicar aquelas pessoas a quem tal ódio é dirigido.
     Porém, é difícil analisar, muitas vezes, se a pessoa agiu por  ignorância ou na ignorância. A pessoa que transa sem usar camisinha o faz na ignorância ou por ignorância? Quem rouba energia  elétrica ou água  o faz por ignorância ou na ignorância? Quem utiliza softwares pirateados em seu computador  o faz por ignorância ou na ignorância?
     Para cada situação, faz-se necessário considerar o nível sociocultural dos envolvidos, sua escolaridade, acesso às informações,  conhecimento das conseqüências que suas  atitudes podem acarretar, enfim, há uma quantidade grande de variáveis que precisa ser analisada. Nem sempre é fácil concluir-se  se a pessoa agiu na ignorância ou por ignorâncias. Em questões envolvendo ética, a resposta nunca é preta ou branca, há uma infinidade de matizes de cinza que precisam sem analisados. ( Texto escrito por ANDERSON CHAGAS DE OLIVEIRA, geógrafo, mestre em Saúde Pública e graduando em Psicologia pela Unopar,  extraído do espaço  ponto de vista, publicado no Jornal de Londrina, quarta-feira, 5 de Novembro de 2014).                                

      

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