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sábado, 13 de setembro de 2014

O FRANGO CAIPIRA CHEGOU


     Guaravera  é  logo ali. Mas a vida no sítio onde mora dona Benedita é bem diferente da cidade. Cinco vezes por semana, quando ainda está escuro, ela pega o ônibus e vem trabalhar em Londrina. O patrão ficou viúvo e ela redobrou a fidelidade que já passa de dez anos. Sem frescura para pegar no pesado,  conta  que limpa do chão ao teto e quem conhece seu serviço diz que a Dita é um verdadeiro pé de boi.  Na cozinha também se vira e o doutor que o diga. No prédio onde trabalha,  os vizinhos sentem de onde o cheirinho de coisa boa que vem do primeiro andar.
     De pele bronzeada, olhos azuis e um jeito simples de falar, cativa todo mundo. Da boca de Dita  todo mundo vira “fia”. “Oi  fia, tá  boa? “Nossa, fia, nem parece que você já é mãe”. Fia deixa que eu  ajudo  com a sacola”.  E  por aí vai o misto de simplicidade e generosidade que se  estende às de 16 ou 61 anos.
     Casada e mãe de cinco filhos, diz que trabalha tanto para dar do bom para a prole. “Eu já sofri muito e não quero isso pras minhas crianças, não, repete. Os três maiores estão bem encaminhados,  trabalham,  estudam e têm referências.
     Dita sabe  ver o número do ônibus, as horas no relógio analógico da parede, conta dinheiro, mas não aprendeu a ler, nem a escrever. Na carteira de trabalho, está escrito “não alfabetizada”, mas quem convive com ela sabe como ela é sabida.
     Mandioca, quiabo e limão, sempre que colhe,  distribui  aos vizinhos do patrão,  a quem só chama de doutor. A mandioca traz limpinha, lavada e embalada em saquinhos  prontos  para congelar. O limão colhido na noite anterior foi na base do farolete e logo avisa: “Dá pra  fazer suco, temperar salada, peixe.”
     Toda de branco, como a patroa falecida sempre exigiu, atravessa uma quadra e corre pra pegar na gôndola do mercado um saquinho de canela em pó. “O doutor gosta na banana feita no fogo. Come todo dia. Tá com 92 anos”, conta.
     No dia em que encontrou o vizinho no elevador e disse que era de Guaravera,  prometeu um frango caipira. “Mas eu chego cedinho. Quando dá  sete horas eu to aqui, então corre pra pegar o frango que não pode ficar fora da geladeira”, alertou. O porteiro anunciou a chegada do frango. O vizinho dormia e a esposa, de pantufa,  desceu. E logo se explicou a quem estava no elevador. “Vou correr atrás  de um frango caipira. Meu marido encomendou e tá  ali na portaria me esperando”, disse.
     Dita só deixou o frango e foi fazer sua correria diária. O cafezinho do doutor, o almoço, o elixir de banana com canela, as camisas  passadas com o se engomadas, panelas e janelas limpas, o chão de  parquete  espelhado  e os  os paninhos de chão branquinhos no varal. O apartamentão antigo do doutor , nas mãos da Dita, brilha feito novo. O frango caipira virou o prato principal de domingo, e com o macarrão e a maionese, banquete. A Dita, é claro, foi o assunto principal por tudo que é.  (Texto escrito por WALKIRIA VIEIRA, repórter no Nosso Dia, extraído do espaço dedo de prosa, publicado na FOLHA RURAL, FOLHA DE LONDRINA, 13 se Setembro de 2014.) 

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