Guaravera é logo
ali. Mas a vida no sítio onde mora dona Benedita é bem diferente da cidade.
Cinco vezes por semana, quando ainda está escuro, ela pega o ônibus e vem trabalhar
em Londrina. O patrão ficou viúvo e ela redobrou a fidelidade que já passa de
dez anos. Sem frescura para pegar no pesado, conta que limpa do chão ao teto e quem conhece seu
serviço diz que a Dita é um verdadeiro pé de boi. Na cozinha também se vira e o doutor que o
diga. No prédio onde trabalha, os
vizinhos sentem de onde o cheirinho de coisa boa que vem do primeiro andar.
De pele
bronzeada, olhos azuis e um jeito simples de falar, cativa todo mundo. Da boca
de Dita todo mundo vira “fia”. “Oi fia, tá boa? “Nossa, fia, nem parece que você já é mãe”.
Fia deixa que eu ajudo com a sacola”. E por
aí vai o misto de simplicidade e generosidade que se estende às de 16 ou 61 anos.
Casada e mãe de
cinco filhos, diz que trabalha tanto para dar do bom para a prole. “Eu já sofri
muito e não quero isso pras minhas crianças, não, repete. Os três maiores estão
bem encaminhados, trabalham, estudam e têm referências.
Dita sabe ver o número do ônibus, as horas no relógio
analógico da parede, conta dinheiro, mas não aprendeu a ler, nem a escrever. Na
carteira de trabalho, está escrito “não alfabetizada”, mas quem convive com ela
sabe como ela é sabida.
Mandioca, quiabo
e limão, sempre que colhe, distribui aos vizinhos do patrão, a quem só chama de doutor. A mandioca traz
limpinha, lavada e embalada em saquinhos prontos para congelar. O limão colhido na noite
anterior foi na base do farolete e logo avisa: “Dá pra fazer suco, temperar salada, peixe.”
Toda de branco,
como a patroa falecida sempre exigiu, atravessa uma quadra e corre pra pegar na
gôndola do mercado um saquinho de canela em pó. “O doutor gosta na banana feita
no fogo. Come todo dia. Tá com 92 anos”, conta.
No dia em que
encontrou o vizinho no elevador e disse que era de Guaravera, prometeu um frango caipira. “Mas eu chego
cedinho. Quando dá sete horas eu to aqui,
então corre pra pegar o frango que não pode ficar fora da geladeira”, alertou.
O porteiro anunciou a chegada do frango. O vizinho dormia e a esposa, de
pantufa, desceu. E logo se explicou a
quem estava no elevador. “Vou correr atrás
de um frango caipira. Meu marido encomendou e tá ali na portaria me esperando”, disse.
Dita só deixou o
frango e foi fazer sua correria diária. O cafezinho do doutor, o almoço, o elixir
de banana com canela, as camisas passadas com o se engomadas, panelas e janelas
limpas, o chão de parquete espelhado e os os
paninhos de chão branquinhos no varal. O apartamentão antigo do doutor , nas
mãos da Dita, brilha feito novo. O frango caipira virou o prato principal de
domingo, e com o macarrão e a maionese, banquete. A Dita, é claro, foi o
assunto principal por tudo que é. (Texto
escrito por WALKIRIA VIEIRA, repórter no Nosso Dia, extraído do espaço dedo de
prosa, publicado na FOLHA RURAL, FOLHA DE LONDRINA, 13 se Setembro de 2014.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário