Crônica extraída do jornal FOLHA DE LONDRINA, dia 5 de Março
de 2014. Do espaço CRÕNICA, ESCRITO POR RUY CARNEIRO GIRALDES NETO, servidor
público em Londrina.
Quando eu era
pré-adolescente, no início dos anos 90, costumava passar várias semanas na casa
do meu avô. Ele era uma pessoa extremamente sistemática. Dizia que as coisas
dele , ele achava no escuro. E era verdade!
Tinha dias que eu
ficava com ele enquanto ele “catava milho”, como minha avó chamava seu hábito
de ficar datilografando. Eu gostava muito de fazer companhia pra ele.
Lembro-me, como se fosse hoje, das histórias que ele me contava. Eram histórias
verídicas, fatos que ele havia vivido e
que ele me contava e recontava diversas vezes, como se fossem inéditas a cada
vez. E eu sempre as ouvia com muita atenção e
admiração, afinal, ele foi meu único referencial de pai.
Foi meu avô quem
me ensinou sobre ser íntegro, respeitar os mais velhos e batalhar para ser
alguém na vida. Ele sempre usava como
exemplo – de fracasso – pessoas muito próximas, geralmente membros da nossa
família, que ele tentou aconselhar, ajudar a dar direcionamento, mas que foram teimosas
e estavam colhendo os frutos ruins de sua teimosia, de não terem-no ouvido.
Eu me espelhei durante muito tempo – pelo menos desde a
infância até o início da minha adolescência – nele.
Hoje vejo que
muitas coisas no meu caráter herdei
dele: sou sistemático, gosto de estudar, ler e escrever. E, algo que sempre
gostei, e aprendi nas tardes e noites ao lado dele, foi conversar com os mais velhos e saber ouvi-los.
Os mais velhos têm muito a contribuir nas nossas
vidas, independentemente da classe social e origem.
Deles podemos extrair momentos preciosos de saber e vivência. Mas para
isso é importante tentar compreendê-los e imaginar como as coisas seriam na
época deles, ou na perspectiva deles.
Eu trabalho há quase
10 anos na Previdência Social. Lá atendo, predominantemente, idosos, Pessoas
que, na maioria das vezes, além de serem atendidas, querem ser ouvidas. Novamente, o tempo que passei com o meu avô,o meu
hoje me auxilia no meu trabalho .
Pois eu gosto muito do que faço e tenho muito amor e respeito pelos
idosos que costumo atender diariamente.
Meu avô faleceu no ano em que me casei, em
2007, com 83 anos. E agradeço a Deus por ter aproveitado muito o tempo que
estive com ele.: nos dois anos antes dele falecer foi o tempo em que talvez
mais tenha dialogado e aproveitado o tempo com ele. Porque antes eu era criança
e pré-adolescente. Antes dele falecer eu já estava adulto. Tive chance de
ouvi-lo e aprender ainda mais. Compreendê-lo mais e compreender muita coisa ao meu
respeito. Sinto muita falta dele, o meu “Vô Marcílio” , ou o “Seu Bertolazi”,
como as pessoas o chamavam. Quem me dera ter a chance de poder conversar com
ele e extrair um pouco mais de sua sabedoria e exemplo de vida. Mas o
importante, como já ouvi de um amigo que
perdeu a mãe, foi telo amado e demonstrado isso enquanto tive chance.
Hoje atendi um
senhor de cerca de 70 anos que me inspirou a escrever este texto. Tive
necessidade de escrever isto porque, por incrível que pareça , senti nele “ o cheiro
do meu avô “.
Boa tarde, José Roberto!
ResponderExcluirEsse texto é de minha autoria.
Fico feliz que dele tenha gostado e compartilhado no seu Blog, que é muito interessante, aliás!
Saudações desde Londrina.