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sexta-feira, 7 de março de 2014

O CHEIRO DO MEU AVÕ


Crônica extraída do jornal FOLHA DE LONDRINA, dia 5 de Março de 2014. Do espaço CRÕNICA, ESCRITO POR RUY CARNEIRO GIRALDES NETO, servidor público em Londrina.


     Quando eu era pré-adolescente, no início dos anos 90, costumava passar várias semanas na casa do meu avô. Ele era uma pessoa extremamente sistemática. Dizia que as coisas dele , ele achava no escuro. E era verdade!

     Tinha dias que eu ficava com ele enquanto ele “catava milho”, como minha avó chamava seu hábito de ficar datilografando. Eu gostava muito de fazer companhia pra ele. Lembro-me, como se fosse hoje, das histórias que ele me contava. Eram histórias verídicas,  fatos que ele havia vivido e que ele me contava e recontava diversas vezes, como se fossem inéditas a cada vez. E eu sempre as ouvia com muita atenção e  admiração,  afinal,  ele foi meu único referencial  de pai.

     Foi meu avô quem me ensinou sobre ser íntegro, respeitar os mais velhos e batalhar para ser alguém na vida.  Ele sempre usava como exemplo – de fracasso – pessoas muito próximas, geralmente membros da nossa família, que ele tentou aconselhar, ajudar a dar direcionamento, mas que foram teimosas e estavam colhendo os frutos ruins de sua teimosia, de não terem-no ouvido.

Eu me espelhei durante muito tempo – pelo menos desde a infância até o início da minha adolescência – nele.

     Hoje vejo que muitas  coisas no meu caráter herdei dele: sou sistemático, gosto de estudar, ler e escrever. E, algo que sempre gostei, e aprendi nas tardes e noites ao lado dele, foi  conversar  com os mais velhos e saber  ouvi-los.

     Os mais  velhos têm muito a contribuir nas nossas vidas, independentemente da classe social  e origem.  Deles podemos extrair momentos preciosos de saber e vivência. Mas para isso é importante tentar compreendê-los e imaginar como as coisas seriam na época deles, ou na perspectiva deles.   

Eu trabalho  há quase 10 anos na Previdência  Social.    atendo, predominantemente, idosos, Pessoas que, na maioria das vezes, além de serem atendidas, querem ser ouvidas.  Novamente, o tempo que passei com o  meu avô,o meu  hoje me auxilia no meu trabalho .  Pois eu gosto muito do que faço e tenho muito amor e respeito pelos idosos que costumo atender diariamente.

      Meu avô faleceu no ano em que me casei, em 2007, com 83 anos. E agradeço a Deus por ter aproveitado muito o tempo que estive com ele.: nos dois anos antes dele falecer foi o tempo em que talvez mais tenha dialogado e aproveitado o tempo com ele. Porque antes eu era criança e pré-adolescente. Antes dele falecer eu já estava adulto. Tive chance de ouvi-lo e aprender ainda mais. Compreendê-lo mais e compreender muita coisa ao meu respeito. Sinto muita falta dele, o meu “Vô Marcílio” , ou o “Seu Bertolazi”, como as pessoas o chamavam. Quem me dera ter a chance de poder conversar com ele e extrair um pouco mais de sua sabedoria e exemplo de vida. Mas o importante, como  já ouvi de um amigo que perdeu a mãe, foi telo amado e demonstrado isso enquanto tive chance.

     Hoje atendi um senhor de cerca de 70 anos que me inspirou a escrever este texto. Tive necessidade de escrever isto porque, por incrível que pareça , senti nele “ o cheiro do meu avô “.

Um comentário:

  1. Boa tarde, José Roberto!
    Esse texto é de minha autoria.
    Fico feliz que dele tenha gostado e compartilhado no seu Blog, que é muito interessante, aliás!
    Saudações desde Londrina.

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