Páginas

sexta-feira, 14 de março de 2014

CIDADANIA E CONSUMISMO


( EXTRAÍDO DO Jornal de Londrina do dia 09 de Março de 2014. Ponto de Vista. Texto escrito por ANA PAULA MOREIRA, estudante de jornalismo na Unopar em Londrina, e  WILSON FRANCISCO MOREIRA, professor de Sociologia, em Londrina).

     Nos últimos anos não se pode negar que houve  melhoria  de vida pessoal  de muitos brasileiros, conseguido com a melhoria de renda pelo salário e acesso a crédito  e bens de consumo. As pessoas têm consumido mais e ascende uma “nova classe média”, tema de estudos e análises para intelectuais de várias áreas.

Há estudiosos que consideram que há uma inclusão social apenas ligada ao consumo, não  havendo inclusão de cidadania. Concordando com tal posição podemos perceber que a inclusão social pela via de consumo nunca estará saciada. O problema  é que quanto mais se consome, mais há necessidade de consumo. A inclusão social, principalmente para os jovens, torna-se cada vez mais cara. Para ser aceito é preciso estar na “moda”, com celulares,  tênis e roupas adequadas.  Sem os códigos impostos necessários não entram nem nos rolezinhos. É impossível o salário e o crédito acompanharem a moda tão efêmera e descartável.

A marca registrada do capitalismo em que vivemos  (e não podemos fugir) é a propriedade de coisas. Ter coisas é o que nos torna aceitáveis, o que temos é a essência do que somos. Precisamos de coisas não pela utilidade delas, mas para exibi-las  e nos sentirmos bem diante dos outros. O que hoje é “status”  já não o é amanhã.  Precisamos trocar de celulares e carros urgentemente, sempre.  Assim   confirmamos que a inclusão social pela via de consumo apenas, e do endividamento das pessoas  para satisfazer a sanha do mercado ( e não a nós ), se transforma  em ilusão  e potencializa a instabilidade social. Os dilemas sociais da “ nova classe média “ afloram.  O mesmo sistema que possibilita e permite sua ascensão  lhe nega serviços públicos de qualidade.  Ao mesmo tempo em que entra em contato com um novo  mundo , consegue perceber que paga por ele. E isso não é de agora. E o mais engraçado  é justamente o maior poder de consumo  trazer a questão de cidadania.

 Os protestos em meados do ano passado demonstram a insatisfação  com os serviços públicos e serviram a pouca coisa concreta.  A desorganização e a estúpida  negação da política como ação e via de discussão  contribuíram para dar em nada e emergir os baderneiros inconseqüentes. Os protestos  continuam ,  mas a massa amorfa tem feito apenas barulho.

Para que sejam protestos de fato precisamos ser pautados pela cidadania e toda responsabilidade que este termo traz. Abraçar a luta pela cidadania e inclusão plena  é aceitar e compreender a política como o elemento ordenador na sociedade democrática. Sem a luta política, sem o debate de idéias  e sem a participação ativas nas questões coletivas não podemos construir alternativas  que sejam mais humanas para  nossa vida social.  Se, por um lado, o consumismo pode levar à cidadania, por outro a busca pela cidadania pode superar o consumismo desenfreado, apontando para uma sociedade em que a essência do ser seja mais importante que a essência do ter. l  

Nenhum comentário:

Postar um comentário