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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A FALTA DE UMA EDUCAÇÃO SENTIMENTAL


   Texto escrito por Sylvio do Amaral Schreiner, psicanalista em Londrina, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA em 04 de novembro de 2019 
   Um dia desses fui num fast food aqui da Avenida Higienópolis, em Londrina. O estabelecimento estava lotado, principalmente de jovens universitários. Deduzi isso devido não só às idades deles como também pelas camisetas que usavam referentes ao curso que faziam e à universidade. Nesses lugares, como a maioria sabe, não há garçons, mas você mesmo pede no balcão, recebe sua bandeja com seu pedido e vai para alguma mesa. Após comer, espera-se que você mesmo leve sua bandeja para o lugar apropriado para deixar a mesa livre para outros que irão ocupá-la. Para a minha desagradável surpresa os jovens saíam deixando para trás suas bandejas com toda uma bagunça e sujeira imensas em cima das mesas que ocupavam. Não foi só um grupo que fez isso, mas muitos, pelo que pude observar, e isto me faz refletir melhor o quanto falta educação sentimental. 
   Digo educação sentimental porque não se trata apenas de educação de boas maneiras, mas de respeito ao outro que também existe, de conseguir enxergar o outro. Quando não respeitamos espaços públicos, ocupados, ou que serão ocupados pelos demais, falta consideração pela existência do outro. Há muitas pessoas que só conseguem perceber o próprio umbigo, as próprias necessidades e não possuem um vestígio de mente que consiga conceber que os outros também têm suas necessidades e têm direito a sua vez. 
   A falta de uma educação sentimental é reflexo de uma mente minimamente desenvolvida. Os jovens que citei acima são, enfim, jovens, e muitos vão aprender durante a vida. Não é o fim do mundo terem deixado suas bandejas e sujeiras lá em cima das mesas, mas imagine se todos, de todas as idades, em todos os lugares, tiverem esse tipo de atitude. Aliás, isso já acontece e não é à toa que o mundo está do modo que está. 
   Vejo muitas pessoas desejando mudanças de políticas, de governantes, de como precisamos cuidar melhor de nossas cidades e população, mas essas mudanças extremamente necessárias não são feitas de fora para dentro, e sim, de dentro para fora. Se nós não nos mudarmos, se não transformamos a maneira como lidamos com a vida e com os outros, nada lá fora mudará. Ficará tudo na mesma. Seja para dirigir, para andar na rua, para ir a restaurantes, para viver, precisamos de uma mente que vai moldar o tipo de relações que estabeleceremos. E mente é algo que precisa ser desenvolvido, ela não vem pronta. 
   Nós nascemos com um corpo e se esse for bem nutrido e cuIdado vai se desenvolvendo. A mente também precisa de nutrição para se desenvolver e esta nutrição se dá à medida que aprendemos a lidar com nossas emoções. Em outras palavras, crescemos quando aprendemos a lidar conosco mesmos, com o que é nosso. Quando sabemos lidar de maneira mais eficiente com nossos desejos, nossas frustrações, nossas limitações, nossos sentimentos, temos a possibilidade de escolher viver melhor e assim não deixaremos para trás nossas bagunças e sujeiras. Não só nossas vidas, mas o próprio mundo tem a chance de se tornar um lugar melhor e muito mais agradável. (FONTE): Texto escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicanalista em Londrina, coluna MUNDO VIVO, Folha Saúde, página 8, saúde@folhadelondrina.com.br segunda-feira, 04 de novembro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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