Páginas

sábado, 10 de novembro de 2018

O MÊS DE CECÍLIA

 
   Nas datas de nascimento e morte de Cecília Meireles lembramos sua poesia eterna

   Escrevo esta crônica no dia 8 de novembro, um dia depois da data em que Cecília Meireles faria 117 anos. A poeta de olhos caros nem precisaria viver tanto, mas sua obra vive. Quem quer que pesquise a poesia brasileira passará inevitavelmente por ela. 
   Seus poemas suaves e profundos foram plasmados na realidade, mas tem a delicadeza de quem põe a alma do que escreve. Alma, identidade imaterial, inspiração de quem vai além da carne,
   A vida de Cecília Meireles não foi nada fácil. O pai morreu antes dela nascer, a mãe quando ela tinha três anos, a menina foi morar com a vó católica na ilha dos Açores, onde a língua portuguesa assume forma musical. Já li que Hilda Hilst, outra poeta emblemática, inspirava-se ‘ouvindo’ o português falado em Portugal, como se os versos fossem soprados em seus ouvidos por algum Fernando Pessoa. 
   Com Cecília Meireles, talvez tenha acontecido algo parecido, o português com seus múltiplos sotaques é mesmo uma das línguas mais musicais do mundo, poética por excelência. 
   Ao ler sobre a infância de Cecília, apartada tão cedo de pai e mãe, penso numa de suas frases mais famosas; “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”. Porque foi na infância que a vida começou a podar a poeta, mas ela sempre rebrotou.
   O estado de tristeza, no entanto, a acompanharia durante a vida. Começou a escrever poemas aos 9 anos, Aos 18 publicou seu primeiro livro simbolista. Aos 21 anos casou-se com o pintor português Fernando Correa Dias que sofria de depressão e acabou se suicidando. Assim as flores de Cecília Meireles foram podadas mais uma vez. 
   Mas ela rebrotaria, e casou-se de novo com o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo com quem teve três filhas.
   Em suas fases apaixonadas escrevia seus versos mais bonitos: 
   “O que me encanta é a linha alada/ das tuas espáduas, e a curva/ que descreves, pássaro d’água!” (trecho do poema “Nadador”).
   Cecília começou a vida profissional como professora, mas foi também jornalista do “Diário de Notícias” , onde escrevia sobre educação.
   Ao longo da vida, ganhou prêmios importantes de literatura como o Jaboti, Olavo Bilac e Machado de Assis.
   Mas, para além do reconhecimento, fica uma obra poética ímpar. Se Manoel de Barros foi um mestre em deslocar a linguagem para lugares imprevisíveis, criando seu próprio imaginário, Cecília nos aproxima das emoções em poemas que são o desfolhamento das fibras do coração, com a condição de nos reconciliar com a dor e a alegria de forma plena. 
   A poeta nasceu no dia 7 de novembro de 1901 e faleceu em 9 de novembro de 1964. Este mês, portanto, é marcante em seu ciclo de vida, o mês ideal para celebrar sua memória com uma de suas frases que considero a síntese de seu nascimento, renascimento e morte. Segue aqui, traída pelas mãos do tempo, como um sopro de primavera: 
   “Tenho fases como a Lua: fases de andar sozinha, fases de ser só sua.” 
   Não há mulher lunar que não se identifique com toda essa poesias. (FONTE: Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com caderno Folha 2, página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 10 e 11 de novembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

    

Nenhum comentário:

Postar um comentário