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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

SALTO ABRUPTO DOS 18 AOS 80 ANOS


   Foi impactante vivenciar, num repente, o salto da idade de um amigo dos 18 aos 80 anos. Esse experimento eu vivi ao reencontrar esse amigo que não via depois de passados 62 anos. Como, pela ausência, deixei de acompanhar o envelhecimento dele, que é a implacável tangência, guardei a memória de quando o vi pela última vez, jovem, cheio de vida e de sonhos. Foi com perplexidade que assisti a essa imagem remota dar um salto abrupto para o momento do reencontro com as duas épocas se unindo e formando um só presente, com a sensação de que o tempo não havia passado.
   Como imaginar alguém salta da juventude à velhice num piscar de olhos? É o que acontece num reencontro. O fenômeno torna-se espantosamente real. Vemos a mesma pessoa no presente com duas idades, duas fisionomias, duas estaturas. Descrever isso com palavras é impossível. É preciso sentir, e isto é individual. Não podemos transmitir a outrem a sensação proporcionada por esse passe de mágica que faz a florescência da vida avançar, como a um passe de mágica, para a inevitável decrepitude. E o que ocorre conosco em relação aos outros é o que ocorre a eles em relação a nós. 
   Quantas vezes na juventude nos perguntamos como seríamos e como e como seriam os nossos amigos aos oitenta anos! E vemos isto quando reencontramos alguém que não víamos desde seis décadas atrás. Então, o que era antes uma imagem difusa, torna-se real, porque o interregno do tempo de ausência desaparece, como inexistente. Ao reencontrar meu amigo de juventude mais de meio século depois, parecíamos estranhos um ao outro, embora a memória reavivando claramente acontecimentos passados. 
   Onde aqueles sonhos de outrora, onde as respostas àqueles antigos questionamentos? Irrelevante buscá-los agora, porque se apagaram nas brumas do tempo, perderam significado. Misturam-se as vagas lembranças do passado com a repentina realidade do avanço do tempo, um tempo que não vimos transcorrer porque não vivemos lado a lado esse período de circunstancial separação. Então, isto que não se vivenciou juntos é como se não houvesse existido. (FONTE: WALMOR MACCARINI, jornalista em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 17 de agosto de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). *Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br

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