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sexta-feira, 30 de junho de 2017

AUTONOMIA AMEAÇADA


   Ao escolher na quarta-feira (28) Raquel Dodge como substituta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer rompeu com a tradição, que vinha desde 2003, de confirmar o nome mais votado pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). O subprocurador Nicolau Dino foi o mais votado na eleição da ANPR e era considerado o sucessor natural de Janot, que denunciou Temer na última segunda-feira (26) por corrupção passiva com base na delação bombástica de Joesley Batista. Opositora de Janot e mais alinhada ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, crítico das delações e dos supostos abusos do Ministério Público Federal (MPF) na Lava Jato, Dodge será a responsável por investigar Temer e dar continuidade ao trabalho nos desdobramentos da operação, a partir do dia 17 de setembro, quando Janot deixará o cargo. Para aumentar ainda mais a temperatura em Brasília, Temer se encontrou com Mendes em um jantar na casa do ministro, fora da agenda oficial, na noite de terça-feira (27), na véspera da decisão. Além da proximidade com Janot, pesou contra Dino a postura e atuação dele no julgamento da chapa Dilma/Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no início deste mês. Durante as discussões com os demais ministros, Dino chegou a questionar a participação de Admar Gonzaga, que atuou como advogado na chapa presidencial em 2010. Por tudo isso, o futuro da PGR se tornou uma incógnita. O principal temor é que a Procuradoria volte a ter no comando alguém com a postura de “engavetador-geral da República”, com arquivamento de denúncias contra presidentes ao invés das atuais investigações. A nova procuradoria, no entanto, garante que a Lava Jato seguirá em frente. No site criado para a campanha, ela se compromete com a continuidade da força-tarefa, permanência dos atuais membros e reforço da estrutura de “modo a assegurar resultados e celeridade”. Fato é que a Lava Jato repercute no meio político pelo combate à corrupção, como nenhuma operação na história do País, em busca da transparência e honestidade no trato do dinheiro público. Por isso, é mais do que necessário a continuidade da operação, a qualquer custo, com vigilância da opinião pública. Assim como a liberdade de imprensa, a autonomia da PGR e a independência da Polícia Federal são fundamentais para a democracia brasileira, principalmente quando o País atravessa águas tão turbulentas. A Constituição pode até dobrar, como nos traumáticos processos de impeachment, mas jamais quebrar. (OPINIÃO, pagina 2, sexta-feira, 30 de junho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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