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sábado, 6 de maio de 2017

O REI -e, AS CORES DO AMOR


   Ele viva se gabando da coleção de filmes em VHS.
   - Nem te conto, meu chapa! – e ia logo contando: - Consegui achar a versão original de Lawrence da Arábia, três horas e trinta minutos, dá pra assistir fazendo churrasco de costela!
   Um dia, contou com os olhos brilhantes dos colecionadores:
   -Minha videoteca está com 800 filmes , meu chapa (era no tempo em que se falava “meu chapa”), oi-to-cen-tos! 
   Mas o tempo para ver tantos filmes? Respondeu olhando longe:
   -Importante é o acervo, um legado para os filhos, quem sabe para a universidade, a Humanidade!
   Voltamos a nos encontrar depois do DVD, ele já falando com os olhos perdidos:
   -DVD é mais prático, reconheço, mas não resiste, estraga fácil, a caixa sempre quebra e... o velho VHS vai continuar reinando!
   Ganhou o apelido de Rei do VHS. Então alguém, que comprava estoques descartados de videolocadoras para vender em pequenas cidades, fez oferta de compra de seu acervo. Foi enxotado aos brados:
   -Meus VHS só saem daqui depois do meu cadáver!
   E continuou revendo seus filmes de VHS, até que o aparelho quebrou. Perguntou se eu sabia de algum técnico, falei que talvez nalguma cidade pequena, ele disse que só já não tinha procurado como, aproveitando a viagem, tinha comprado mais milhares de VHS. 
   - E estou revendo e comprando todas as versões do Lawrence da Arábia!
   Em nosso último encontro, falou que basta o Trump jogar bomba atômica na Coréia e pronto, os satélites todos vão pifar e...
“os celulares e Netflix vão pifar juntos! Aí... sabe quem vai voltar com tudo? – falou olhando para o alto, olhos brilhantes de fé e fervor – O velho e bom V-H-S!!!
   Então entendi sua loucura: o que tinha lhe dado um sentido à vida, depois deixou sua vida sem sentido, andando à procura de alguém a quem contar:
   -Eu sou o Rei do VHS!
   Vi como se parece com tantos a carregar crenças ainda vivas no coração nas falidas na realidade. Em casa, liguei a tevê, sindicalista defendia a velhíssima CLT. Lembrei dos socialistas que defenderam a URSS até sua extinção, os defensores de reinados ideológicos adoram siglas. Lembrei da UDN, a União Democrática Nacional, tão democrática que apoiou o golpe militar e a ditadura... até ser por ela extinta. Lembrei da KKK, a Klu-klux-klan, o CCC, Comando de Caça aos Comunistas, e muitas outras siglas superadas pela democracia como o VHS pela ciência.
   Então, na passeata dos meus sonhos, pretendo gritar: Abaixo os VHS! – não os que já saíram do mercado, os que ainda estão nas cabeças .

   NOTÍCIAS DA CHÁCARA

   AS CORES DO AMOR 

   Os astronautas, quando voltam da estação orbital, depois de até ano apenas com comida pastosa, querem mastigar, querem pão. E, depois de apenas ver apenas a Terra azul, se deliciam com as outras tantas cores deste mundo, param diante de flores para admirar. E nós passamos por flores sem nem olhar, decerto porque, com tantas flores à vista, não vemos o primor que é cada flor em sua forma e sua cor. Ou suas cores, como na foto. Os meios tons parecem dizer ora, viva a mistura, se todas as cores são misturas de apenas três cores básicas, o vermelho, o amarelo e o azul. 
   O racismo ignora que todas as raças, conforme já provaram os fósseis e os genomas, se originaram na África. Nossos mais antigos antepassados eram negros, que foram se modificando conforme iam viajando pelo mundo, gerando desde os escandinavos de cabelos brancos até os chineses de cara achatada. E agora já está claro que a raça predominante será a mestiça, os filhos do futuro não serão etnicamente puros. Ou melhor, quanto mais impuros, mais misturados, mais humanos. E as flores sempre nos mostram isso. (Crônica do escritor e jornalista DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegini@sercomtel.com.br, página 3, caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI e NOTÍCIAS DA CHÁCARA, 6 e 7 de maio de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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