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sexta-feira, 14 de abril de 2017

PROJETO DE JUDÔ NO VISTA BELA TEM LUTA DENTRO E FORA DO TATAME

Meninos e meninas atendidos no projeto precisam ter bom desempenho escolar

   Apoiadores do projeto correm atrás de recursos para que as aulas não parem; 50 crianças e adolescentes se beneficiam com a prática e a fila de espera não para de crescer

   A prática do judô não beneficia apenas o corpo, melhorando a agilidade, o equilíbrio e a coordenação motora. A luta marcial também trabalha a disciplina e ajuda a desenvolver valores, como respeito, honestidade e humildade. Em um contexto de periferia, o esporte pode ser um agente de transformação social. É nisso que apostam os idealizadores do Projeto Judô Caminho Suave, que desde 2014, atende crianças e adolescentes de 7 a 17 anos de idade moradores do Residencial Bela Vista (zona norte de Londrina) e de outros bairros da região.
   Atualmente, mais de 50 alunos integram o projeto e a fila de espera não para de crescer. As aulas acontecem duas vezes por semana. Às segundas-feiras, pela manhã e a tarde, e às quartas-feiras, no período noturno. “A gente espera que possa sair daqui um campeão mundial, mas o judô ajuda a formar indivíduos, cidadãos de bem”, disse o educador físico Wellington Berbel, que ministra as aulas. 
Berbel é funcionário do município e atua no Núcelo de Apoio à Saúde da Família nas unidades básicas de saúde dos conjuntos Vivi Xavier, Parigot de Souza, Chefe Newton e Residencial Vista Bela, todos na zona norte. Às segundas-feiras, as aulas de judô acontecem dentro da programação do Nasf, mas às quartas-feiras o educador físico é voluntário no projeto, que tem como coordenadora Alessandra Luz Pacheco de Freitas. “Esse projeto é muito porque é a única coisa que tem para as crianças daqui do bairro. Não temos nenhuma outra atividade física disponível e o bairro não tem praças onde elas possam brincar”, ressaltou a coordenadora. 
   Sem recursos, a luta maior acontece fora do tatame. São os apoiadores do projeto que correm atrás de todo tipo de auxílio para que as aulas não parem. Recentemente, um grupo de mães de alunos formou uma comissão para captar doações. “Estamos providenciados toda a documentação para podermos receber doações de grandes empresários. O Berbel e a Alessandra trabalham sozinhos por dois anos. Agora conseguimos nos juntar e com a nossa ajuda, o Berbel pode ficar mais livre para dar as aulas de judô das crianças”, disse Patrícia Carla dos Santos. 
   Patrícia tem dois filhos atendidos no projeto e atesta as mudanças decorrentes da prática do judô no comportamento deles, especialmente do mais velho, de 14 anos, que tinha problemas de disciplina na escola. “Em casa ele quase não fala, é reservado, mas na escola ele ‘dá palestra’. Com o esporte, vem a questão da disciplina. Eles aprendem a organizar os horários, a ter responsabilidade. O meu mais velho chegou a desistir das aulas por duas ou três vezes, mas agora se mantém firme e tem até recebido elogio dos professores. É uma das melhores coisas que aconteceram na vida deles. Para nós, como mães, o projeto só veio agregar”, comentou. “Não é um processo fácil de conseguir. Tem os desvios de conduta, é um processo bem longo, mas estamos conseguindo”, avalia Berbel. 
   “Para mim esse projeto é fundamental. Minha filha mais velha de 12 anos, já era boa aluna na escola, mas está mais dedicada. Ela já se destacou nas aulas e já treina em uma academia, onde não paga mensalidade e conseguiu um padrinho que dá os passes de ônibus para ela ir treinar”, orgulha-se a mãe, Ana Cristina Martins, que também já matriculou a caçula de 6 anos. 
   “No começo eu pensei em desistir porque era muito difícil. Pare sei meses, mas voltei querendo treinar sem parar. Estava difícil conciliar o horário da escola com o projeto”, contou Keren Kauany de Souza, de 12 anos. Ela mora no Jardim Maria Lúcia (zona leste) e descobriu o projeto de judô em uma das idas à casa da avó, que vive no Bela Vista. A grande dificuldade inicial de Keren era organizar seus horários. Assim como muitos outros alunos do projeto, ela não tinha ideia de como dividir as horas do dia para acomodar todas as atividades. A organização veio com o tempo. “Aprendi a controlar meus horários e minha vida agora está organizada. Vale a pena fazer todo o esforço”, disse ela, que ostenta a faixa azul, a terceira na graduação do esporte.
   Brayan Marques, de 16 anos, ingressou no projeto há dez meses e reconhece os reflexos da disciplina imposta pelo esporte na sua conduta dentro e fora de casa. “Com a cobrança do Berbel, hoje eu sou uma pessoa bem melhor. Não ajudava nada em casa, só queria ficar na rua. Hoje, ajudo minha mãe e cuido para manter boas notas na escola..”
   O bom desempenho escolar é cobrado por Berbel, que duas vezes por ano pede aos alunos que lhe apresentem seus boletins escolares. “Se as notas não forem boas, a promoção de faixa não acontece”, frisou o professor. 
   AULAS SÃO MANTIDAS COM AJUDA DA COMUNIDADE
   Atualmente, o Projeto Judô Caminho Suave, no Residencial Bela Vista, se mantém com a ajuda da comunidade. O salão onde acontecem as aulas foi cedido pela Capela João Paulo II. O tatame e os quimonos usados pelos alunos foram doados pela academia Judô Okano e todas as outras despesas são cobertas com o dinheiro obtido em rifas e promoções organizadas pelo grupo de mães das crianças e adolescentes atendidos pelo projeto. No momento, estão sendo vendidos cupons de uma rifa de Páscoa e o dinheiro arrecadado será utilizado na compra de ventiladores e bebedouros. 
   “A gente precisa de ajuda para a compra de quimonos, faixas, custeio de campeonatos”, listou o educador físico Wellington Berbel. “Também estamos tentando conseguir livros para estimular a leitura entre os alunos do projeto”, acrescentou ele. 
   Para auxiliar a captação de recursos, a coordenadora Alessandra Luz Pacheco de Freitas aposta na divulgação e criou a página Projeto Judô Caminho Suave no Facebook para aumentar a visibilidade. 

   SERVIÇO 

   Quem quiser colaborar com o Projeto Judô Caminho Suave pode entrar em contato com a Alessandra, pelo telefone (43) 99690 - 2426. 
   O endereço do Projeto é Rua Gregório de Souza Vacário, 600. As aulas acontecem às segundas-feiras, das 9h30 às 11 horas e das 14 às 17 horas, e às quartas-feiras, das 19 às 21 horas. (SIMONI SARIS – Reportagem Local, caderno FOLHA CIDADES, terça-feira, 11 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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