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sexta-feira, 21 de abril de 2017

DIFERENTES PLANTAS CARNÍVORAS USAM MESMA ARMA CONTRA ALVOS


   Apesar de distâncias biológicas e geográficas, quatro espécies adaptaram genes associados a resposta ao estresse para digerir insetos

   Não existem muitas plantas carnívoras; estima-se que só 0,2% das espécies que dão flores, sejam comedoras de carne, isto é, de insetos. Elas estão disseminadas em quase todos os continentes – a fria Antártida é a exceção de praxe- e, usam métodos variados para capturar suas presas. 
   Mas uma pesquisa com material genético de quatro espécies representativas revelou uma surpresa: elas usam praticamente o mesmo arsenal bioquímico para digerir suas vítimas. 
   Apesar da distância – biológica e geográfica -, quatro plantas carnívoras adaptaram os genes associados a respostas ao estresse em outras plantas para produzir as proteínas do suco digestivo que consome suas presas. 
   “Isso sugere que há apenas caminhos limitados para se tornar uma planta carnívora”, diz o biólogo Victor A. Albert, da Universidade de Buffalo (EUA). “Essas plantas têm um kit de ferramentas genéticas e estão tentando chegar a uma resposta para o problema de como se tornar carnívoras. No fim, todas vieram com a mesma solução”.
   “A pesquisa, feita por uma equipe de 33 cientistas de sete países, com destaque para japão, China e EUA, foi publicada na revista científica “Nature Ecology & Evolution”.
   O estudo envolveu sequenciar o material genético planta-de-jar-australiana, nome científico Cephalotus foolicularis. Ela foi escolhida porque produz tanto folhas carnívoras que formam recipientes (os “jarros”) contendo os fluidos que digerem suas presas, e folhas não carnívoras. Isso permite compará-las para ver como a carnívora se desenvolve. 
   A comparação foi feita com outras plantas carnívoras: a orvalho-do-Sol australiana de Queensland (Drosera adelae); uma planta-de-jarro endêmica filipina (Nepenthes alata); e a planta-de-jarro roxa , nativa dos EUA e Canadá (Sarracenia purpúrea).
   Os pesquisadores fizeram uma amostra do “coquetel digestivo” das plantas e identificar 35 proteínas. 
   Muitas delas estão relacionadas com as que outras plantas com flores usam para afastar agentes causadores do doenças. É o caso de enzimas que quebram um polímero chamado quitina como uma defesa contra fungos, que fazem suas paredes celulares com esse conjunto químico. Mas a equipe suspeita que as plantas carnívoras neutralizam a enzima para digerir exoesqueletos de insetos, também feitos de quitina. 
   Uma planta carnívora deve apresentar quatro traços: atração, captura, digestão e absorção da presa. “No entanto, com base na teoria evolutiva, cada componente deve evoluir um a um de acordo com a acumulação de mutações, disse á Folha um dos autores do estudo ,Mitsuyasu Hasebe, do Instituto em Okazaki. 
   Isso significa também que pode haver mais plantas do tipo do que se imagina. Por exemplo, demorou para o gênero Philcoxia, nativo do cerrado brasileiro ser incluído entre as plantas carnívoras. Um estudo prévio foi inconclusivo. Outro publicado em 2012, incluindo autores brasileiros, mostrou que essas plantas comem vermes debaixo do solo capturando-os com folhas adesivas. (RICARDO BONALUME NETO - DE SÃO PAULO, página B4, CIÊNCIA + SAÚDE, segunda-feira, 17 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE SÃO PAULO).

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