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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

1 EM CADA 5 BEBÊS TEM MÃE ADOLESCENTE

Camila Dourado, 18, com seu segundo filho em SP

   País não contém gravidez precoce, e taxa de nascidos de jovens abaixo de 20 anos se mantém alta no s últimos dez anos
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   Especialistas dizem que situação agrava ciclo da pobreza e defendem métodos contraceptivos de longa duração

   Aos 17 anos, Sandra Maria da Silva, 40, dava à luz seu primeiro menino. Hoje, sua filha Teresa Raquel repete sua trajetória e, também aos 17, acaba de ter uma menina. 
   A história de Sandra e Teresa não é rara num país onde um a cada cinco bebês nascidos por ano é filho de uma adolescente – 431 mil em 2016, de acordo com levantamento preliminar do Datasus.
   E essa proporção custa a cair. Nos últimos dez anos, a taxa de nascidos vivos de jovens menores de 20 anos o Brasil se manteve em patamar elevado - de 21,1% do total, em 2007, para 21,2% em 2016. 
   Nos EUA essa taxa diminuiu 44% entre 2007 e 2015 (último dado disponível) – os bebês de mães adolescentes são perto de 6% do total. 
   No Brasil, Norte e Nordeste têm os maiores índices – quase um terço de gestações precoces. Em São Paulo, embora as taxas sejam mais baixas (15,1% no Estado e 12,5% na cidade), a queda é lenta. 
   Especialistas apontam um ciclo: quanto mais periférica e vulnerável a população, mais mães jovens, condição que agrava a pobreza e gera mais gestações antecipadas. 
   A evasão escolar entre elas é alta, e a inserção no mercado de trabalho é baixa. Estudo do Ipea (instituto federal) apontou que 76¨% das brasileiras de 10 a 17 anos que têm filhos não estudam – e 58% não estudam nem trabalham. 
Camila Dourado, 18 terminou o ensino médio em 2015 e carrega no colo seu segundo filho – o primeiro nasceu quando ela tinha 15 anos. “Vou cuidar dele até ele fazer um ano. Depois não sei.”
   Outro elemento que estimula a gravidade precoce é a volatilidade da adolescência. São maiores as chances de a menina esquecer de tomar a pílula deixar de usá-la quando terminar o namoro ou de não contar à família que tem relações sexuais. “A jovem tem um pensamento de que nada vai acontecer com ela. A amiga engravida mas ela não”, afirma a obstetra Cristina Guazzelli, da Unifesp. 
   De acordo com o neonatologista Sérgio Marba, da Unicamp, esse bebês também têm maior risco de prematuridade, baixo peso, mortalidade e complicações com a má formação. “É uma mãe que não faz pré-natal direito tem condições socioeconômicas mais complicada e muitas vezes esconde a gravidez. 

   MELHOR PREVENI
   Segundo médicos, os chamados métodos contraceptivos de longa duração têm se mostrado uma opção eficaz para evitar o problema. Foi um dos recursos que ajudou os EUS a reduzir suas taxas.
   Entre eles estão DIU de cobre e o DIU hormonal (dispositivos inseridos por médicos dentro do útero que duram de cinco a dez anos) e o implante – um bastão de 4 cm que é colocado abaixo da pele, no braço, e dura três anos. 
   Desde 2013, a Maternidade Vila Nova Cachoeirinha (zona norte) mantém um programa para orientar mães que dão à luz a escolher um dos métodos – que é implantado dias depois do parto. 
   Teresa Raquel é uma delas – diferentemente de sua mãe, que teve sete filhos e depois fez laqueadura (esterilização definitiva). “Coloquei o implante porque fiquei com medo, não quero ter outro filho.”
   “A gente tem 600 partos por mês, e 40% delas voltam[ para ter outro bebê]”, diz o obstetra Geraldo de Nadai, coordenador do programa. 
A inserção pós-parto, porém, não evita a primeira gravidez. Para isso, seriam necessários programas maiores. “O investimento tem melhorado, mas não há uma política pública ampla”, afirma Nadai. 
   No ano passado, a Prefeitura de São Paulo distribuiu mil implantes a seis maternidades e a UBSs (Unidade Básica de Saúde). Já o Ministério da Saúde, que oferece apenas o DIU de cobre entre os métodos de longa duração, diz ter adquirido 1,4 milhão de unidades entre 2011 e 2015. 
   “É preciso enfatizar o DIU, que existe em grande quantidade, e ao mesmo tempo ampliar o cardápio de métodos”, diz Adalberto Aguemi, obstetra e coordenador municipal da saúde da mulher. 
   Uma coisa é unanimidade entre os médicos: “O fator primordial é educação. É preciso fazer esses jovens entenderem que têm mais opções de vida e são úteis para a sociedade”, diz Cristina Guazzelli.
   O Ministério da Saúde afirma investir em educação e e planejamento reprodutivo”, 
   A pasta cita a distribuição entre 2011 e 2015, de 2,4 bilhões de preservativos, além do investimento na compra de 78 milhões cartelas de pílula e a distribuição de 12 milhões de cadernetas de saúde de adolescentes entre os anos de 2009 e 2015. (JÚLIA BARBON – DE SÃO PAULO, caderno COTIDIANO, segunda-feira,27 de Fevereiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE S. PAULO).* LEIA MAIS na página B6).

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