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domingo, 27 de novembro de 2016

,WENCESLAU BRAZ, com W e com Z.


   Minha cidade é só mais uma dessas cidadezinhas do interior do Paraná que os mapas fazem questão de esconder. Quando mostram, colocam um ‘V’ no começo ou ‘S’ no fim. Dizem que são as novas normas ortográficas da língua portuguesa. “O topônimo deveria ser grafado como Venceslau Brás”, impõe a duvidosa Wilkipédia. Balela. Nome é nome não varia conforme tempo ou espaço. O nono presidente do Brasil foi o mineiro Wenceslau Braz e não consta que ele tenha ido ao cartório mudar o nome nos seus 98 anos de vida. 
   Ela fica lá no Norte do Pioneiro, já na divisa com os Campos Gerais. Não tem nenhum ponto turístico famoso como o belo Salto Cavalcanti, da vizinha Tomazina, ou um prédio de dez andares como Siqueira Campos. A referência vertical da cidade ainda é Santa Maria, hotel de três andares. A despeito dos atrativos das cidades vizinhas, os brazenses se orgulham de ainda manter algumas sedes regionais como a Comarca Judiciária, Núcleo de Educação, Companhia da Polícia Militar. As ruas largas com o comércio que atrai moradores da região são motivo de orgulho. 
   As senhoras passam o dia varrendo a varrer as pequenas folhas de sibipirunas que não resistem à força do vento. O centro é espremido pelo relevo acidentado, de forma que a cidade tem de crescer nos extremos. No sentido norte-sul, são quatro quilômetros de cidade, do tímido ‘parque industrial’ na saída para Siqueira Campos até a Faculdade de Ciências de Wenceslau Braz (Facibra). Quatro quilômetros que parecem mil ao separar educação e emprego. Ao lado da saúde, a falta de vagas de trabalho é a maior deficiência da cidade. Dos que concluem os estudos, poucos são os que ficam. 
   Sem formosura arquitetônica ou natural, o coração da cidade é o povo. O lado bom de Wenceslau está na simplicidade. No florir do ipê roxo em frente ao Correio, na névoa que transforma o horizonte em mar, nos tapetes verdes das lavouras, nos casais de namorados na escadaria do Sebastião Paraná, no semblante de paz das senhoras que deixam a missa até no singelo vibrar dos galos de ferro ao dobrar dos sinos da Matriz. 
   Neste sábado, essa minha cidade, que é só mais uma dessas cidadezinhas do interior do Paraná, completa 81 anos. Comemoram os paranaenses, mineiros, paulistas, portugueses, japoneses, italianos, árabes, ucranianos, poloneses e todos os outros povos que construíram esta terra. Ser apenas mais uma em nada desmerece a importância desta paragem do antigo ramal do Paranapanema. Talvez, este seja o segredo para a cidade retornar aos trilhos do desenvolvimento: ser apenas uma; não duas, rachada, dividida. (CELSO FELIZARDO, jornalista na FOLHA, página 2, caderno FOLHA RURAL, coluna DEDO DE PROSA, 26 e 27 de novembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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