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terça-feira, 1 de novembro de 2016

IRONIA E SARCASMO


   Hoje vamos tratar de duas figuras de estilo que costumam causar muita confusão: a ironia e o sarcasmo. Você, com certeza, já deve ter ouvido que alguém está sendo “irônico” ou “sarcástico” ao fazer determinada afirmação, mas o problema é que, muitas vezes, os termos são usados como sinônimos, sendo que não é bem assim. 
   Tanto a ironia quanto o sarcasmo são figuras de linguagem, recursos linguísticos utilizados para dar maior expressividade a um texto, assim como a comparação e a metáfora, de que tratamos recentemente. Também têm em comum o fato de estarem associados ao humor e à zombaria, embora isso não seja obrigatório. 
   A ironia consiste em se dizer (ou escrever) exatamente o oposto do que se quer realmente expressar. Por exemplo, quando você ouve uma piada muito sem graça e comenta “Muito engraçado”, está sendo irônico. A mesma coisa acontece quando alguém, depois de ver outra pessoa devorando uma refeição, diz “Estava sem fome, né?”. Ou, ainda, quando a mãe surpreende o filho fazendo algo errado e solta um “Que bonito!”.
   O grande problema com as ironias é que elas, geralmente, são facilmente percebidas na linguagem falada, principalmente por causa da entonação exagerada. Nos exemplos citados acima, você provavelmente imaginou o tom de voz utilizado em cada frase. Já na língua escrita, identificar algo como ironia vai depender de todo o contexto. Afinal de contas, a frase “Que bonito!” poderia, realmente, que o falante achou algo bonito, sem nenhuma ironia. 
   A esse respeito, o cronista Paulo Briguet já afirmou, em mais de uma ocasião, que sente falta de um “ponto de ironia”, assim como temos o ponto de interrogação e o de exclamação. Isso evitaria ser mal interpretado ao usar essa figura de linguagem. 
   De todo modo, cuidado ao usar ironia em qualquer texto. Caso não fique clara essa sua intenção, você pode ter problemas com quem vier a ler, tendo, provavelmente, que se explicar.
   Já no caso do sarcasmo, embora haja também o humor, não há a intenção de se expressar exatamente o contrário do que se diz. É uma crítica mais mal-intencionada, que, geralmente, visa a ofender ou desprezar a pessoa atingida. Apesar desse objetivo, “negativo”, o sarcasmo é, como se disse, carregado de humor, e costuma ser divertido ou engraçado para quem observa. 
   Se você, por exemplo, se dirige a uma mulher muito maquiada e afirma que a maquiagem está “super sutil, quase imperceptível”, está usando de ironia, já que quis dizer justamente o contrário disso. Mas se afirma que a maquiagem está ótima “para tirar o emprego do palhaço do circo”, isso é sarcasmo, pois critica e ridiculariza, mas sem querer indicar o contrário. 
   Outro exemplo: seu time de futebol perdeu feio uma determinada partida. Seu comentário a respeito poderia ser irônico (“jogou super bem, merecia um troféu!” ou sarcástico (“Os jogadores só se atrapalharam com a bola e o campo.”). Em ambos casos, o humor está presente, mas de maneiras bem diferentes.
   Cuidado ao usar esses recursos! Nem todo mundo tem senso de humor o bastante (ou intimidade com você) para aceitar bem esse tipo de brincadeiras. E cuidado também ao se deparar com eles em um texto. Se ficar em dúvida sobre a real intenção do autor, é melhor reler tudo, até ter certeza. 
Até a próxima terça! (FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL. *Encaminhe as suas dúvidas e sugestões para bemdito14@gmail.com coluna BEM DITO, caderno FOLHA 2, terça-feira, 1 de novembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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