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sábado, 5 de novembro de 2016

DENTRO DO CORAÇÃO DE CLARICE

Clarice Lispector: sua obra é apresentada não apenas por palavras, mas por estímulos visuais e auditivos

   Nova York vê o espetáculo teatral baseado em obra de Clarice Lispector no qual o público anda por um labirinto
   Nova York – Um mergulho no universo da escritora Clarice Lispector é o que propõe “Dentro do Coração Selvagem/Inside the Wild Heart”, espetáculo teatro que estreia nesta quinta-feira, 3, em Nova York. Ao contrário de uma peça tradicional à qual o público senta e assiste, o espetáculo oferece à plateia uma experiência imersiva por intermédio de 18 diferentes espaços cênicos, em um palco aberto tal qual um labirinto a ser explorado. 
   Encenado em português e em inglês, “Dentro do Coração Selvagem” chama atenção por sua estrutura não linear de contar várias histórias ao mesmo tempo. Em meio às cenas simultâneas, o público é convidado a interagir com personagens, imagens, sons e até cheiros que remetem à Clarice Lispector. É possível abrir gavetas, vagar pelos ambientes e mexer em tudo enquanto o espetáculo se desenrola. 
   “Em sua obra, Clarice descreve muito as sensações, temperaturas, texturas e achamos que isso tinha que estar incorporado”, diz a atriz Andressa Furletti, co-idealizadora do espetáculo. Desde 2011, Andressa e sua companhia teatral Grupo BR montam em Nova York peças de autores brasileiros em português. Desta vez, o grupo resolveu também usar alguns trechos em inglês na apresentação.
   Convidada para assumir a direção do espetáculo, a coreógrafa Regina Miranda traz seus 35 anos de experiências em cinema, TV e teatro e dá precisão rítmica à dramaturgia cênica. “Optamos por não escolher uma história específica, mas sim trazer as questões “claricianas” com vislumbres de vários livros”, afirma a diretora, que constrói a montagem a partir dos diversos recursos de linguagem da escritora.
   Para entra no “coração selvagem” e pulsante da escritora, o público inicia a jornada em uma sala de espelhos onde a primeira cena apresenta uma das indagações centrais de sua obra – “o que você faria e como seria se você fosse?” – e dali em diante segue por uma hora e meia de Clarice Lispector na veia. 
   “Estamos testemunhando o impacto literário de toda essa “Lispectormania”nos EUA. Cada vez menos as pessoas a identificam como ‘o Kakfa brasileiro’ ou ‘a Viginia Woolf brasileira’ e simplesmente referem-se a ela como Clarice Lispector”, diz a tradutora Katrina Dodson, premiada este ano nos EUA por sua tradução recém-lançada “The Complete Sories”, livro que reúne cinco romances de Clarice Lispector. Além de ganhar o Pen Translatiom Prize, foi o primeiro livro de uma autora brasileira a estar na capa do Sunday Book Review, caderno literário do New York Times. 
   Além dos cinco atores brasileiros e um português em cena não apenas com o uso da palavra, o teatro físico do Grupo.BR ganha reforço também pelos diversos estímulos visuais e auditivos. “Dentro do Coração Selvagem” é a quarta montagem do Grupo.BR e uma ousada tentativa artística de fazer com que Lispector seja entendida mesmo pelos que não entendem nenhuma das línguas. (THIAGO MATOS e DANIELLE VILLELA, caderno FOLHA 2, 5 e 6 de novembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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