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sábado, 22 de outubro de 2016

LIVRO, FUTURO DIGITAL?

Robert Darnton: "As pessoas estão lendo mais literaturas light em e-readers e o impresso tende a atrair leituras mais profundas

   O bibliotecário Robert Darnton afirma que diferentes tipos de leitura demandam diferentes tipos de livro que podem ser físicos ou digitais

   Em 2009, o americano Roberto Darnton, então diretor da Biblioteca de Harvard, lançou “A Questão do Livro”, uma coletânea de ensaios sobre passado, presente e futuro deste que é um de seus principais objeto de estudo. À época, o e-book ganhava força nos Estados Unidos e já chamava a atenção de editores de outros países. Aposentado há um ano, ele segue interessado no tema – tanto que publicou “A Liberty Tour de France”, sobre o livro e seu mercado no século 18.
    Há tempos o senhor pesquisa a história do livro. O que, dese momento que estamos vivendo, deve entrar para a história?
   A mudança mais óbvia é a tecnológica. A internet transformou o modo como os livros são produzidos, vendidos e lidos. As mudanças que começaram em 1991, com o desenvolvimento da internet, são tão grandiosas quanto às da Era Gutenberg. E elas continuam. Não é exagero dizer que o mundo do livro está passando por sua maior transformação em 500 anos. É excitante e ameaçador para os profissionais do livro, mas, para mim, é um tempo de grandes oportunidades.
   Quando o senhor lançou “A Questão do Livro” discutia-se o futuro do livro diante do crescimento do e-book – e os mais catastróficos falavam no seu fim. Lá se vão 7 anos e há quem fale agora, na morte do livro digital. Como o senhor avalia esses últimos anos no que diz respeito às ameaças do digital ao físico e às ameaças da conjuntura ao digital?
   As pessoas amam fazer declarações dramáticas como essas e sobre a obsolescência das bibliotecas, e isso entra na imaginação de outras pessoas. Mas são afirmações imprecisas. No geral, penso que a situação dos livros impressos e digitais, é melhor hoje que há dez anos. E também as bibliotecas, pelo menos nos EUA, estão num ótimo momento e se tornando mais importantes do que nunca. Sobre a morte do e-book, e eu só posso dizer isso por informações dos EUA, sabemos que a venda do digital diminuiu cerca de 10%. A estatística é acompanhada de outra informação interessante. Houve um aumento do número de livrarias independentes – e elas só vendem obras impressas. Podemos dizer que houve um revival do livro impresso, mas isso não sinaliza uma transformação para o mercado de e-books. Depois de um período de fascinação com o e-book, tudo está se estabilizando agora, o que quer dizer que a demanda é estável. Além disso, é provável que seja verdade que diferentes tipos de leitura requeiram diferentes tipos de livros. As pessoas estão lendo mais literatura light em e-readers e o impresso tende a atrair e estimular leituras mais profundas. Admito que o pensamento é simples. O que acontece é que se está tentando conhecer os hábitos de leitura. Como resultado, podemos ter uma espécie de estabilização do mercado no lugar do desparecimento do e-book, que continua indo bem. 
   O fato de os e-books serem mais baratos ou gratuitos desvaloriza o produto ou ajuda a promover o acesso à leitura?
   Há alguma verdade nisso de as pessoas não valorizarem o que podem ter gratuitamente. Mas o que acontece é que um público mais amplo está tendo acesso a livros graças à plataformas de acesso livre e às novas tecnologias. Um bom exemplo é o projeto SimplyE, parceria entre a Biblioteca Pública de Nova York e a Biblioteca Pública Digital da América. Pessoas de áreas mais pobres podem, agora, ter livros gratuitamente e ler. E mais: as editoras não estão perdendo dinheiro porque essas pessoas não compravam livros. O público leitor está sendo ampliado graças ao livro digital. 
   É preferível ler qualquer coisa a não ler nada? 
   Uma vida sem leitura é triste. E não lendo nada seríamos cortados de boa parte de nossa cultura. A importância de democratizar o acesso por meio da internet me parece central. 
   Como fazer isso?
   Deveria haver mais apoio público às bibliotecas e elas deveriam se tornar centros eletrônicos de difusão da literatura. Fácil de dizer, difícil de se executar. O potencial está lá. Alguém deve assumir a liderança e convencer governos a dedicar mais atenção a isso. Não se trata de uma ideia ingênua. Estamos descobrindo que pode haver consequências econômicas se tivermos maior e melhor acesso a livros e artigos. * Leia mais sobre livros e bibliotecas na página 3. (MARIA FERNANDA RODRIGUES – AGÊNCIA ESTADO, caderno FOLHA 2, quinta-feira, 20 de outubro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA)

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