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domingo, 4 de setembro de 2016

BIFURCAÇÕES


   EU ERA CRIANÇA. Não lembro quantos anos tinha. Acho que 10. Meus pais, que nunca foram bons em dar notícias dolorosas, me disseram a seguinte frase assim que acordei: “A vovó Esther morreu”. Notícia dada, café servido, meu pai me levou para a escola. Não houve lágrimas ou palavras de conforto. Mina vó Esther morava em Recife e eu, em São Paulo. Nos víamos nas férias e, às vezes, ela passava alguns meses em nossa casa. Eu queria chorar, queria entender a morte, mas só encontrei o silêncio. Anos depois, passei por outro final. Desta vez, tive que contornar, mais uma vez, minha tristeza sozinha. Eu tinha 16 anos e levei um tremendo fora, do primeiro namorado. Coração despedaçado e a certeza de que nunca mais iria gostar de mais ninguém. Ledo engano. Depois dele, muitos relacionamentos vieram. Levei mais alguns foras e dei outros. Alguns doeram na alma – e acho que ainda doem se eu cutucar. Outra lição: a vida é feita de términos e de recomeços dos mais variados possíveis. Mudei de casa algumas vezes e de trabalho tantas outras. E mais um aprendizado: mudanças são como bifurcações, e é a gente que escolhe para qual lado vai trilhar. A decisão é sempre de cada um, e sua natureza é, sim, solitária. O sofrimento, a tristeza que um término causa na gente, também é só nosso. Faz parte de uma experiência pessoal, que deve passar à margem de qualquer julgamento. Sempre tirei boas lições de cada um desses caminhos, que fazem parte dessa jornada incrível que é viver. Esta edição de VIDA SIMPLES á dedicada às bifurcações na nossa estrada. Tem muitas coisas boas nas próximas páginas – e na vida. (ANA HOLLANDA – editora, página 4, CARTA AO LEITOR, revista VIDA SIMPLES, Edição 172, impressa na Gráfia Abril, SÃO PAULO (SP).

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