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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

AFINAL, UM CANDIDATO SINCERO


   Considerarei um candidato sincero aquele que declarar publicamente: “Sou um candidato com as mesmas qualidades e imperfeições dos outros que concorrem comigo, e igual aos eleitores, porque oriundo do mesmo meio social. Se eleito, não acreditem que cumprirei todas as promessas. E não confie plenamente que estarei imune de corrupção, porque não conheço meus limites de resistência. Minha identidade ainda não foi testada diante de tentadoras propostas escusas que certamente receberei e de tanto dinheiro que irá desfilar ante de meus olhos. 
   Não garanto que não empregarei parentes e amigos, porque será difícil dizer-lhes não depois de tanto lhes haver pedido o voto. Também não dou garantia de lealdade ao partido, e é certo que darei atenção também aos adversários, por que tratar com estes será mais fácil do que com os partidários, sempre cobradores e inconvenientes. Se eu não ceder aos contrários, poderei não ter projetos aprovados e nem exercer a governabilidade. Se assumir o papel, não pensem que serei sempre atencioso com vocês, e muitas vezes mandarei dizer que não estou. Tenho algumas boas ideias, mas nenhum programa concreto de governo, porque não tenho formação em administração pública e pouco sei de legislação. Vocês me perguntam onde arranjarei dinheiro para tantas obras que prometo, e eu lhes digo que não sei. Se digo que cortarei gastos, não sei se o farei, mas é certo que poderei aumentar impostos. Certamente, terei de fazer barganhas e concessões, porque nas relações de poder preponderam forças ocultas, e elas são corrosivas. Não tenho receio de eventualmente ser chamado de corrupto, mas de a  opinião pública e a imprensa me qualificarem de incompetente, e aí não serei reeleito. Vocês sabem que governar deveria ser uma atividade civilizada, porém não é o que ocorre neste país. Claro que não serei transparente nos meus desmandos, ou será meu suicídio político. Quem sabe no exercício da função poderei até me revelar um estatista, ou serei apenas mais um entre os políticos comuns, que apenas passam pelo cargo, dele tiram proveito e nada produzem em benefício público. (  Crônica de WALMOR MACCARINI, jornalista em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 22 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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