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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O PAÍS DA GRATIDÃO

   Em meus quase 25 anos de jornalismo, aprendi uma coisa: nos grandes acontecimentos, sempre há um londrinense por perto. Na final olímpica de futebol, o pé-vermelho em questão foi o técnico Rogério Micale. 
   Antes da decisão, não resisti a um trocadilho infame: 
   - A Alemanha é favorita, mas espero que Rogério Micale. 
   Graças à Deus, ele me calou. A final no Maracanã, palco da tragédia de 1950, começou a reabilitar a honra da Seleção Brasileira após aquele duríssimo e vergonhoso 7 a 1 no Mineirão, dois anos atrás. Cada vez mais eu me convenço de que o perdão e a ressurreição pertencem à natureza mais íntima dos acontecimentos em todo o universo. Na noite de sábado, eu pensei no goleiro Barbosa quando Weverson defendeu o último pênalti cobrado pela Alemanha. 
   Apesar da minha brincadeira boba, o técnico do time olímpico chamou-me a atenção desde a fase de treinamentos por sua humildade, clareza e determinação. Quando um jornalista afirmou que um dos jogadores convocados era desconhecido do grande público, Micale respondeu: “Desconhecido aqui é o técnico da seleção”. Não mais, Rogério.
   Sim, eu sei que Micale nasceu em Salvador. Mas a sua projeção no mundo do futebol se deu em Londrina e no Paraná. Acabou sendo escolhido para comandar o time olímpico após se destacar como treinador de categoria de base no Londrina e na Portuguesa Londrinense. E aqui também viveu parte de sua carreira como jogador: entre 1990 e 1992, foi goleiro do Tubarão. 
   Sempre digo que goleiro é o mais solitário e reflexivo dos personagens do futebol. E também o mais observador. A escolha de Micale para a camisa 1, Weverson, revelou-se certeira: o substituto do líder Fernando Prass, cortado por contusão, tomou apenas um gol durante o torneiro olímpico. E defendeu aquele pênalti.
   Hoje é segunda-feira, a Olimpíada terminou e eu gostaria de lembrar a todos que temos um país para construir. O exemplo de Rogério Micale e de nossos atletas de ouro servirá de inspiração para essa missão histórica: reinventar uma nação que foi destruída por criminosos. (Crônica do jornalista e escritor PAULO BRIGUET, página 6, FOLHA MUNDO, coluna AVENIDA BRASIL por PAULO BRIGUET. Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br segunda-feira, 22 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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