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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

ENTRE FALÁCIAS E MENTIRAS


   Se existe um modelo inconteste de professor perfeito, esse foi Cristo. Ele usava parábolas e historinhas para ensinar. Vou piratear sua metodologia. 
   Diz que um pai amoroso, por todos conhecidos por seu amor à justiça e abraço pela liberdade, no aniversário de sua filhinha levou-a a uma loja de brinquedos e liberou-lhe o cartão de crédito. “Não quero ser autoritário e lhe impor um presente, minha princesinha, escolha o que quiser . Você é uma filha ótima. Só me faz feliz. Estudiosa, obediente, come verduras e não fica grudada no celular.”
   Pode-se imaginar a garota maravilhada, os olhos brilhando, entre gôndolas, prateleiras e vitrines. “Tenho o melhor pai do mundo”, dizia ela. E assim pensavam todo os que sabiam o que estava acontecendo e os vendedores que lhe disputavam atenção. 
   Na verdade vos digo: não há manipulador mais perverso e mais profundo. Aquele que impõe sua vontade, exerce seu poder, sutilmente conduz para onde ele quer, amorosamente restringe, limita e direciona, e consegue fazer pensar que é justo, que ama e que valoriza a liberdade acima de tudo.
   Por que não deixou que a filha escolhesse a loja? Que ela escolhesse a loja de seu gosto e preferência? 
   Assim é a nossa feliz experiência com a democracia. Somos todos totalmente livres para escolher entre aqueles que os partidos nos impõem como opções. “Vocês estão livres para escolher o candidato que quiserem desde que seja entre esses que estamos apresentando. “ Nós não somos livres para escolher a loja. Não somos livres para, entre 500 mil cidadãos londrinenses, escolher aquele que queremos que nos governe. 
   São muito raros os momentos de absoluta liberdade democrática, até porque são muito raras as circunstâncias em que o eleitor pode previamente escolher os cidadãos que gostaria de ver disputando a sua preferência. 
   Democracia pressupõe liberdade e liberdade pressupõe conhecimento. Tivemos o mérito de votar em Alexandre Kireeff sem saber se seria um bom prefeito, e nos responsabilizamos pela escolha. Acertamos. Bombamos. Fomos bem. Agora seria mais fácil: fica fácil optar por quem conhecemos. Queremos que ele continue. Mas nossa vontade se desmancha diante da vontade dele. Ele não quer. E lá vamos nós para a loja que não escolhemos para escolher um presente cuja graça e virtude não conhecemos. 
   Quando optamos pela reeleição – e a reeleição é ótima exatamente quando o dirigente faz bem o dever de casa – estamos reconhecendo um modelo. Mais. Estamos reconhecendo o trabalho de secretários como Paulo Bento, Daniel Pelisson, Gilberto Martin. Estamos aplaudindo Carlos Alberto Geirinhas e parabenizando Janeth Thomas. Estamos na figura de Kireeff, validando toda sua equipe, dos primeiros até os mais novos. Todos os outros que me perdoam por não nominá-los aqui.
   Mas, oh, falácia das falácias! A democracia é apenas o melhor dos modelos políticos entre os disponíveis. Mas pode ser pior. Imagine num segundo turno quando teremos que escolher entre dois o presente que menos nos desagrada. (CARLOS FORTES, professor de Português, Gramática e Literatura em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, segunda-feira, 15 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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