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sexta-feira, 22 de julho de 2016



   Receber um elogio do filósofo e escritor Olavo de Carvalho é algo que coloca em oposição dois sentimentos fundamentais: a humildade e a gratidão. 
   Por um lado, a humildade impede que eu reproduza literalmente aqui o comentário divulgado nas redes sociais. (Embora eu saiba: quem diz ser humilde já não está sendo humilde).
   Sob outro aspecto, igualmente importante, há o sentimento de gratidão, que deve ser expresso com todas as letras, e não apenas em caráter privado. Inúmeras vezes já disse a que ponto o Olavo foi importante na minha formação intelectual e até mesmo na minha sobrevivência como ser humano. Mas ter o meu trabalho elogiado por aquele que considero o maior escritor vivo da língua portuguesa aumenta exponencialmente a minha dívida moral com o mestre da Virgínia. Daí a necessidade de fazer este agradecimento em letras de forma, com toda a ênfase possível para um escritor menor feito eu, e com o prejuízo da humildade. Não fosse o Olavo, hoje eu seria um assessor pra lamentar ou, quem sabe, estaria preso em Curitiba. 
   Olavo não é homem de elogio fácil. Com a paciência marcada pelas cicatrizes de quem muito apanhou nestes 25 anos em que vem atacando a hegemonia incultural brasileira. Olavo tem um nível de exigência elevadíssimo, mesmo (e principalmente) com os amigos. Que um cronista do interior do interior do país, falando de assuntos que nem sempre têm maior interesse fora de sua cidade ou região, tenha sido mencionado pelo autor de “O Jardim das Aflições”, já constitui uma grande conquista literária, muito mais valiosa que prêmios ou diplomas concedidos por bancas julgadoras ou professores ideologicamente hipnotizados.
   Joseph Brodsky escreveu belo ensaio dedicado ao seu mestre W. H. Auden: “Para agradar a uma sombra”. Não quero aqui me comparar a ninguém ( sinto-me astronomicamente distante das grandezas dos poetas Brodsky e Auden), mas preciso admitir que escrevo para agradar a algumas vozes: as dos seus meus sete leitores, a de meu amado pai e a do professor Olavo. Na tentativa diária de agradar a essas vozes tão próximas, tenta talar e cantar com minha própria voz – aquela que vem do coração. 
   Das muitas lições que tive com Olavo de Carvalho, a mais importante foi a do amor ao próximo. Com ele aprendi que é impossível amar outra pessoa e ao mesmo permitir que ela continue vivendo na mentira. Dizer a verdade, por mais amarga ou ofensiva que seja, constitui um dever moal incontornável – e é o que tento fazer todos os dias com minhas crônicas. 
    Além do equilíbrio delicado entre humildade e perdão, o elogio de um grande escritor me impõe uma pesadíssima responsabilidade. O homem que está reinventando a alta cultura brasileira continuará sendo um leitor exigente. Se eu dormir sobre (ou sob) os louros do elogio, corro o risco de ganhar apelido. E ele é o melhor inventor de apelidos que já conheci: bobeei, estou Arruinaldo. 
   De qualquer forma, acho que desta vez o professor exagerou na avaliação. Quanto a mim – e talvez só quanto a mim -, Olavo não tem razão. (Crônica do jornalista e escritor PAULO BRIGUET, página 3, caderno FOLHA CIDADES, espaço coluna AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet. Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrrina.com.br sexta-feira, 22 de julho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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