Páginas

terça-feira, 26 de julho de 2016

PREFÁCIO DO LIVRO PAIS INTELIGENTES FORMAM SUCESSORES, NÃO HERDEIROS,


É mais fácil governar uma cidade ou um país do que educar uma criança. É mais fácil dirigir uma empresa com milhares de funcionários do que formar um pensador. É mais fácil consertar milhares de máquinas supercomplexas do que transformar um ser humano impulsivo e impaciente em alguém tolerante e calmo. 
   O dinheiro pode comprar uma fábrica de camas, mas pode não produzir uma noite agradável de sono. O sucesso e a fama podem projetar um ser humano ao patamar mais alto de uma sociedade, mas podem não retirá-lo dos níveis mais baixos da ansiedade, da irritabilidade, da insatisfação crônica, da autocobrança. Uma escola pode transmitir milhões de dados sobre matemática, física, química e outras competências técnicas, mas pode não ser inteligente e psicologicamente saudável, capaz de trabalhar minimamente funções complexas da inteligência , como pensar antes de reagir; reciclar perdas; lidar com contrariedades; expor, e não impor, ideias; altruísmo; serenidade, empatia; carisma.
   Somos uma espécie belíssima e dificílima de se compreender. Este livro trata de uma das áreas mais importantes do processo educacional: a formação de sucessores. Claro, ele não oferece todas as respostas, mas joga luz sobre motivos que leva reinos a caírem, nações a entrarem em decadência, empresas a falirem, famílias a se fragmentarem e personalidades que tinham tudo para dar certo a fracassarem, enquanto outras que tinham tudo para dar errado têm sucesso.
   Todos começam a vida como herdeiros, por mais pobres, desprivilegiados e abandonados que sejam. Todos herdam pelo menos uma carga genética, o que lhe dá o direito à vida, e a vida, por só, é fabulosa, misteriosa e incompreensível em sua plenitude. A grande maioria das pessoas também herda conhecimentos incríveis, como os direitos civis, a cultura de seu povo, os valores de seus pais. Muitas ainda herdam o direito a estudar, a ler livros, a conhecer, a aprender e a captar a expertise de seus mestres. Essas são heranças notáveis. E uma minoria recebe as heranças “famosas”, mas que não são as mais importantes, como bens materiais, empresas, ações, dinheiro.
   Quem herda gasta, consome, perde. E gastar sem preservar, renovar e enriquecer é ser um herdeiro irresponsável, e não um sucessor. Gastam-se os anos de vida, mas tem de haver uma compensação: enriquecer-se com sabedoria, Depositam-se no cérebro valores, ética, cultura, mas é preciso retroalimentá-los, caso contrário, eles se perdem nos porões da memória. Você sabia que ainda hoje várias línguas e culturas se perdem para nunca mais voltarem ao teatro da humanidade? Gastam-se os bens para sobreviver, mas eles precisam ser renovados para que não se esgotem. No entanto, a maioria dos herdeiros sabota sua felicidade, crê que seus bens são eternos. 
   Sempre falo para meus alunos de diversas nações, sejam graduandos, mestrando ou doutorandos, que é muito mais fácil formar herdeiros do que sucessores. Herdeiros são gastadores inconsequentes; já sucessores preservam ou multiplicam o que herdam. Herdeiros são imediatistas, querem tudo rápido e pronto; sucessores pensam em médio e longo prazo, adiam pequenas doses de prazer no momento presente para mergulharem no manancial amanhã. Herdeiros são especialistas em reclamar de seus pais ou responsáveis e de seus mestres; sucessores se curvam em agradecimento àqueles que se doam por eles. 
   Herdeiros pensam que toda escolha implica ganho; sucessores sabem que toda escolha implica perda: eles têm consciência de que é preciso perder o trivial para alcançar o essencial. Herdeiros vivem à sombra dos outros, sucessores constroem seu próprio legado. Herdeiros têm desejo de mudança, mas, no calor da segunda-feira, seus desejos se evaporam; já sucessores sabem que só existe sucesso quando se sonha e se tem disciplina. 
   Sucessores não são pessoas geniais, portadores de dons cerebrais extraordinários. São seres humanos com defeitos e limitações , que choram, recuam e falham. A diferença é que aprenderam intuitivamente as ferramentas básicas que descrevo neste livro. Assim, eles libertaram seu imaginário, reconheceram erros, transformaram lágrimas em maturidade e vexames em crescimento, aproveitaram oportunidades, se reinventaram, refinanciaram sua autoestima, treinaram suas habilidades e sempre deram uma nova chance a si mesmos e aos outros. 
   Já dá para ter uma ideia de que este livro não se dirige apenas a pais, professores e líderes, mas também a filhos, alunos e liderados. O que antes se aprendia intuitivamente, sem um estudo sistemático, com os estresses da vida, agora pode ser aprendido por meio das ferramentas aqui propostas para educar a emoção, lapidar o intelecto, treinar as notáveis habilidades que fazem de nós mentes livres e produtivas. 
   Todos nós falhamos, em algum momento, na educação de nossos filhos, mas, aqui, há trinta técnicas para a correção de rota. Meu sonho é que famílias, empresas e escolas se tornem inteligentes e psicologicamente saudáveis. Como disse há mais de dez anos no livro Pais brilhantes, professores fascinantes: quanto pior for a qualidade da educação, mas importante será o papel da psiquiatria e da psicologia clínica. E elas nunca foram tão importantes, pois, sinceramente, nunca estivemos tão doentes mental e emocionalmente. (Dr. AUGUSTO CURY, Ph.D, Editora Saraiva, 1ª edição, 2015).

Nenhum comentário:

Postar um comentário