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sábado, 25 de junho de 2016

FOGUEIRA NA CHUVA


   Eu já contei por aqui que meu pai comprou um sítio. E neste ano, dizemos a primeira festa junina no barracão. Teve decoração com bandeirolas coloridas e espigas de milho, correio elegante e “ tiro ao alvo”, vinho quente de receita italiana do tio mais velho, quentão açucarado pela tia japonesa, chocolate quente cremoso da tia caçula, cachorro quente da mãe, cuscuz da vó, bolos e mais bolos preparados pelas tias e primas, pipoca, paçoca, pé de moleque, doce de abóbora, tortas salgadas, amendoim, milho cozido,, pinhão, canjica. Teve tanta coisa que daria para mais uma festança daquela. 
   E teve chuva. Choveu o dia todo e a noite toda no sítio. Mas não desanimamos. Vestimos as roupas caipiras, calçamos as botas e enfiamos o pé no barro. E que barro! Não teve um que não saiu de lá enlameado. E feliz. Como disse o tio brincalhão: “Diz que festa com chuva pega”. E as primas já começaram a planejar a reunião junina do ano que vem. 
   A família é grande. E só de juntar os oito irmãos, os filhos, netos e agregados encheu o barracão. Faltou cadeira, mas sobrou comida. Teve quem saiu levando marmita para o dia seguinte. Eu mesma trouxe torta salgada, milho cozido e paçoca de carne para comer na semana e lembrar da festa. 
   O momento mais esperado era a quadrilha. Não, a gente não sabe dançar quadrilha. A nossa dança se mistura à tarantela, fazer o quê? Mas tá valendo. E os tios mais velhos só assistem, enquanto as tias agarram o primeiro ou primeira que passa na frente para sacudir a saia. Até a vó de 84 anos dançou. E dormiu a noite toda depois, sem reclamar de dor no dia seguinte. Os pequenos também dançaram, aliás iniciaram a quadrilha, porque os mais velhos estavam preguiçosos. E caíram nos colos dos pais no fim da noite. 
   Minha mãe, mulher de cidade grande e família pequena, não está acostumada a receber tanta gente em casa e precisou se acostumar com o esquema de cada um contribuir com alguma coisa para a reunião acontecer. Foi bom aprender a dividir a casa, a responsabilidade do preparo da festa e a limpeza da casa depois da bagunça. Foi bom reunir os tios e primos que não vemos há um tempo para contar histórias, rir das piadas, tirar fotos divertidas e dançar. Foi bom estrear o fogão a lenha, assando batata doce na brasa, mesmo que tenha queimado tudo. Foi bom ver de longe a fogueira queimando a noite toda, apesar da água que insistiu em lavar a lavoura de milho cultivada na terra vermelha naquele sábado especial. ( MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA, página 2, FOLHA RURAL, espaço DEDO DE PROSA, sábado, 25 de junho de 2016, 25 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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