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sexta-feira, 22 de abril de 2016

A COR DA ESPERANÇA



   Desde a mais tenra idade somos estimulados a distinguir cores e seus significados, com suas propriedades cromáticas que definem comportamentos e proporcionam relacionamentos harmônicos entre as pessoas. O verde de nossa bandeira representa as matas, o amarelo nossas riquezas minerais, o azul representa nosso céu sempre anil e o branco a paz que tanto almejamos. Ultimamente, as cores teimam em mudar de tonalidade, mesmo contra nossa vontade. 
   O Brasil passou por momentos difíceis nos últimos 50 anos. Sofreu com a ditadura militar, com as recorrentes crises econômicas, com as dificuldades de se estabelecer como nação em desenvolvimento. Apesar das agruras impingidas aos cidadãos por conta de seus mandatários incompetentes, a determinação e o empenho da sociedade falaram mais alto e o País galgou posições de destaque no cenário econômico mundial. Até se poderia imaginar que os rumos dessa nação finalmente haviam sido definidos. 
   A esperança supostamente restaurada vinha bem apresentada, tomando formas e cores. Somando-se às 27 estrelas da nossa bandeira, aquela de cinco pontos e de cor vermelha como sangue, brandida com orgulho por seus admiradores, tinha o poder de hipnotizar e cooptar fiéis seguidores a todo momento. Por mais de uma década, vendeu-se a imagem do fascínio e do poder exercido por um partido político, capitaneado pelo metalúrgico e sindicalista que virou presidente da República. Apesar de receber como herança um País razoavelmente equilibrado financeiramente, Lula foi soberbo ao extremo ignorando os inúmeros alertas de iceberg vindos do exterior, que displicentemente classificou como “marolinhas”. E para rematar a fatura, aliou-se a grandes empreiteiros que saquearam descaradamente os cofres da maior estatal brasileira. Passou a bola para a sucessora como se nada tivesse com o caso, tentou ser ministro de Estado, mas o tempo fechou de vez no Planalto Central. 
   Agora querem apear a presidente “pedaleira” do cargo. Não que Dilma não mereça tal castigo, até pelos sucessivos equívocos cometidos, partindo do pressuposto de que existam realmente motivos para isso. Pela legislação vigente, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) assume o cargo, no caso do afastamento do titular. Ocorre que Temer é considerado pelo Palácio do Planalto como “persona non grata” há algum tempo, por ter tornado pública uma carta de desagravo, em que reclama ser tratado pela presidente como “figura meramente decorativa”. Sua situação agravou-se pela com a divulgação de um áudio em que simula um discurso antecipado de posse. No caso de efetivação no cargo de presidente, Temer terá que rebolar para conviver com o Partido dos Trabalhadores, que certamente não haverá de lhe dar trégua, colocando assim em xeque sua eventual administração.
   No último dia 17, a cor vermelha invadiu o País. Não somente nas bandeiras do PT. Não somente nas manifestações multicoloridas e barulhentas, como sempre foram. Esteve presente também em cada cidadão de bem desta nação, motivado pela vergonha e pela indignação, fazendo ruborizar o pai de família, a dona de casa, o trabalhador honesto.
   A baderna e a deseducação promovidas pelos parlamentares na votação do impeachment não correspondem aos anseios da população. Aqueles que haveriam de, em apenas 10 segundos regulamentares expressarem sua decisão, transformaram em picadeiro de circo o plenário daquela Casa de leis. Não faltou nem o palhaço. Hoje a cor do momento é a cinza da decepção. Que pode sim, se transformar em verde de esperança por dias melhores. Basta ao eleitor selecionar melhor suas escolhas. Porque dessa horda de arruaceiros (com raras exceções), nada de bom se pode esperar. ( JOSÉ LUIZ BOROMELO, escritor em Cianorte, página 2, ESPAÇO ABERTO, sexta-feira. 22 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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