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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

SAÚDE TAMBÉM É CULTURA



   Enquanto o mosquito da dengue se reproduz a olhos vistos, vem aí o carnaval do luxo ao lixo

   Fontes do governo admitem que o país está perdendo a guerra contra a dengue e outras doenças, mal-estar no Planalto, as caras feias de praxe, os casos de microcefalia crescendo. Assustador e não era para ter chegado a esse ponto. Há anos sabe-se da gravidade do problema, da multiplicação dos mosquitos e das mortes. Era para ter armado uma brigada de saúde como nos tempos de Oswaldo Cruz combatendo a febre amarela, foi uma revolução na saúde pública, precisamos de outra.
   Tem que ser para valer, em mutirão, se preciso na marra, limpando quintais fábricas e ruas, exigindo mais cuidado da população e das empresas, aplicando multas. 
   Oswaldo Cruz derrotou não só a febre amarela, que foi erradicada em 1907, antes derrotou a peste bubônica no Porto de Santos fabricando a vacina antipeste em 1900 e, com medidas de limpeza no porto, eliminou a causa da doença com extermínio de ratos e pulgas. Sanitarismo dispensa maquiagens e purpurinas, exige logística de guerra, O duro é que não temos guerreiros à altura, só cabos de encomenda. Hoje, com mias recursos e conhecimento do que no século 20, o ministro da Saúde vem a público dizer que está perdendo a guerra para o mosquito. Temos pessoas erradas em funções fundamentais, hoje política significa loteamento de cargos, mero instrumento de famigeradas alianças. Imaginem se em 1900, o governo tivesse trocado Oswaldo Cruz pela encomenda de um partido aliado? Na verdade, já teve mais seriedade, descambou para a aliança a qualquer preço, até ao preço da saúde pública. Alguém sabe no que deu a lei de multar quem jogasse lixo nas ruas do Rio? Há uns três anos foi assunto prioritário na mídia, hoje não sei se ainda está valendo, se há fiscalização nos espaços públicos. Ou tudo não passou de propaganda política num país do fogo de palhas?
   Em bairros pobres ou ricos o que mais se vê é lixo acumulado , copinhos, garrafas todo tipo de embalagens usadas cheias de água das chuvas, fora as calhas, bueiros entupidos, reservatórios de água sem nenhum cuidado. Estão sobrando mansões abandonadas nas grandes cidades, as classes média e alta estão procurando os condomínios e deixam para trás piscinas descobertas, caso comum, prova de que a condição econômica não inclui educação ambiental. Além disso, tem os bairros pobre com suas deficiências básicas, ferros-velhos a céu aberto, cidades sem esgoto e aterro sanitário e, aí sim, a culpa é dos governos que dão prioridade a estádios. 
   Enquanto a população não aprende, primando pela falta de educação somada aos vacilos do poder público, o Aedes aegypti se espalha, não entrou ainda na mira para valer nem com os casos crescentes de microcefalia – mais de 4 mil confirmados – além da dengue ter chegado a mais de 1,5 milhão de casos em 2015, a chickungunya entrou em 10 estados e o zika vírus atingiu 19, os dados são de um relatório parcial divulgado em janeiro. O que falta? Nem morrendo a população aprende a cuidar do lixo que produz e o governo está longe de ser revolucionário em algum setor. Réveillon nas praias foi um show de desmazelo, agora vem o carnaval e, na sequência, mais doenças, é flagrante o mau uso de tudo no país que convive com o lixo como se fosse mobiliário urbano, arquiteturas imundas de garrafas we copos plásticos. 
   Falta de educação ambiental também mata e a civilização de lata está pagando o preço. Indústrias que produzem o caos também deviam ser chamadas ao bom combate. As fábricas de bebidas deviam fazer mais que patrocinar camarotes no carnaval, as de pneus bancar mais do que corridas, deviam entrar na guerra contra o mosquito, além de ajudar a reproduzi-lo em viveiros criados à sombra da indústria. Fica a dica. Da minha parte, quero distância da folia, já basta o lixo do cotidiano. E não estranhem o assunto, saúde também é cultura. ( CÉLIA MUSILLI celia.musilli@gmail.com página 4, caderno Folha 2, espaço CÉLIA MUSILLI, domingo, 31 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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