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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

INVESTIR EM TECNOLOGIA OU EM EDUCAÇÃO CONTRA O DESPERDÍCIO DE ALIMENTOs?


   Cerca de 79,5 milhões de famintos. Este é o número principal do relatório do Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, de 2015, publicado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. O documento analisa os progressos no combate à fome desde 1990 e faz um balanço em relação às Metas de Desenvolvimento do Milênio. Em 62 páginas, o relatório oferece uma oportunidade de reflexão quanto ao que foi conquistado e ao que falta ser feito para o desenvolvimento sustentável do Planeta. 
   Enquanto o presidente da líder mundial na produção do herbicida glifosato propõe “produzir mais” e “economizar e recursos” (conforme matéria publicada pela Folha de Londrina, em 29/12/15, como título “Tecnologia é a ferramenta da nova agricultura”), pergunto: será que aumentar a oferta de alimentos nas prateleiras dos grandes supermercados resolveria o problema da fome?
   Com tanta tecnologia aplicada para o aumento da produção no campo, não vejo os alimentos ficarem mais acessíveis às classes menos favorecidas do Brasil. Em novembro, durante Conferência das Nações Unidas sobre Mudança de Clima, (COP21), em Paris, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, afirmou que os impactos das mudanças climáticas afetam principalmente os pequenos produtores rurais. Estariam os governos, de fato, investindo em agricultura familiar, ampliando a oferta de créditos e os programas de aquisição de alimentos? Estariam os jovens sendo incentivados a estudarem a fim de melhorar a vida no campo, ao invés de migrar para as cidades? E o transporte de alimentos? Quanto dinheiro público está sendo investido para melhorar as condições das estradas para que o alimento chegue mas rápido ao destino fina? Quanto se perde no caminho? 
   Acredito que acabar com a fome no mundo é um desafio que depende muito de políticas públicas e de parcerias entre governos e empresas. O diálogo e a educação deveriam estar na lista de prioridades, recebendo investimentos tanto quanto, ou mais que, as pesquisas que visam aumentar a eficiência tecnológica no campo. Nessa linha, e considerando que 70% da água doce do planeta é utilizada na agricultura, pergunto: onde estamos combatendo o desperdício dos alimentos já produzidos?
   Não vejo campanhas educativas massivas impedindo o desperdício nas nossas casas e em restaurantes. Além disso, há preconceito com relação ao aproveitamento integral dos alimentos, como o consumo de talos, cascas e sementes. Vejo a nutricionista Bela Gil virar motivo de chacota enquanto milhares morrem por desnutrição. Isso é falta de informação, preconceito bobo. Mas há um programa mudando a vida de alguns brasileiros que muito se fala. Chama-se Sesi Cozinha Brasil, desenvolvido, desde 2004, numa parceria com o Serviço Social da Indústria, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e empresas. É Nutrição saudável e deliciosa! Voltado para merendeiras, os cursos realizados em unidades móveis nos diferentes estados brasileiros, têm vagas abertas para a comunidade. A ideia é combater o desperdício, educando as pessoas a produzirem pratos com as perdas dos alimentos que estão sendo jogados no lixo. Fiz o curso há sete anos e gostaria que mais pessoas da comunidade pudessem ter acesso a essa “nova cultura”. Que tal investirmos mais em programas como esses? ( GIOVANNA MIGOTTO DA FONSECA GALLEI, mestre em Administração, com ênfase em Gestão e Sustentabilidade, pela Universidade Estadual de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 6 de janeiro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA)

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