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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

UMA IDEIA PARA PERDER MENOS

 
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   Universitária de Cafeara desenvolveu peça capaz de reduzir o desperdício de espigas de milho no processo de colheita

   No pequeno município de Cafeara, a pouco mais de 100 quilômetros de Londrina, uma estudante universitária de 20 anos prova que ideias simples, mas eficientes, têm poder para auxiliar o milionário do agronegócio, principalmente quando se tratados pequenos produtores. Valéria Turozi Lazaretti, que está no último ano do curso de Tecnologia em Agronegócio na Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente (SP), desenvolveu uma peça capaz de reduzir a perda de espigas de milho no processo de colheita, quando acoplada em plataformas mais antigas de um modelo e marca específicos. 
   O detalhe é que os resultados em campo foram tão significativos que o trabalho da aluna foi apresentado na Conferência Internacional de Segurança Alimentar, realizada em Ithaca, no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O evento, que aconteceu em meados de outubro, é vinculado à Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). 
   A peça desenvolvida pela aluna, que gerou toda essa repercussão, é prova que tanto no País como no mundo as perdas nas colheitas de grãos ainda são preocupantes, mesmo com toda a tecnologia aplicada em novos maquinários. No Brasil, a frota antiga, a falta de capacitação dos operadores e negligência com regulagem e manutenção dos equipamentos ainda são gargalos da colheita. Um dinheiro que é, literalmente, jogado fora. 
   A ideia da peça é orginalmente do pai de Valéria, Heverson Lazaretti, que é produtor em Cafeara numa área de sete alqueires. Ele percebeu que a plataforma de sua colheitadeira, do ano de 2005, não segurava totalmente as espigas. Valéria então abraçou a ideia do pai, estudou e aperfeiçoou a peça ao longo de seis meses, e atingiu resultados bem significativos. “Meu pai tinha notado o problema do equipamento, já que as espigas não saíam para dentro da máquina, mas iam direto para o chão. Aperfeiçoamos a peça dele, reajustamos todas os ângulos necessários e, na prática, os números foram bem interessantes”, salienta. 
   Pelo levantamento da estudante, realizado numa área vizinha à propriedade da família, o resultado da colheita saltou de 178 sacas por alqueire para 192 sacas por alqueire, um incremento de 7,3% na produtividade. Se a saca fosse entregue numa cooperativa por um valor médio de R$ 22, representaria um incremento na receita de R$ 3.916 para R$ 4.224. O produtor deixaria de perder, portanto, R$ 300 por alqueire. 
“Aqui na minha região, a grande maioria dos pequenos produtores têm colheitadeiras mais antigas, algo bem comum no Brasil. Ou seja, elas não contam com auxílios de diminuição de perdas da plataforma. Acho que as empresas que desenvolvem colheitadeiras ainda não pensam muito no pequeno produtor. Por outro lado, a preocupação mundial com o fornecimento de alimentos é muito grande. Por isso que acho que meu trabalho deu toda essa repercussão”, comenta a universitária. 
                  
    VIÁVEL
   O estudo foi apresentado na conferencia internacional pelo professor em Economia e Empreendedorismo da Unoeste e orientador de Valéria, Alexandre Godinho Bertoncello. \o trabalho “Apanhador de Espigas para Reduzir as Perdas na Plataforma de Milho” chamou tanta atenção, que Godinho recebeu propostas de convênio do México, Nigéria, Gana e França, todos interessados em patrocinar o projeto. 
   A expectativa do professor é que para a próxima safra a peça, que está sendo patenteada, já esteja sendo comercializada no Brasil. “Temos um mercado bastante interessante para ser explorado, já que cerca de 80% dos produtores brasileiros utilizam colheitadeiras antigas. A realidade de colheita no Brasil é muito parecida com outros países do mundo e por isso a tecnologia que desenvolvemos chamou tanta atenção”, explica ele. 

PÓS - COLHEITA TAMBÉM PREOCUPA FAEP
                       
   Se de um lado produtores de pequeno e médio porte têm dificuldade em diminuir as perdas com a colheita, por outro, no Paraná, existem produtores tecnificados o suficiente para utilizar de todos os mecanismos possíveis para aumentar a rentabilidade da propriedade. 
   O assessor técnico e econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Nilson Hanke Camargo, relats que a preocupação com a colheita já começa no momento da escolha de qual variedade o agricultor irá plantar. “Estar com a máquina devidamente regulada e fazer um teste inicial do equipamento é o básico. O produtor também deve ficar atento, porque muitas vezes é um operador que irá executar um trabalho, mesmo em propriedades menores. A atenção está nos mínimos detalhes. Nada como o olho do dono para engordar a vaca, como diz um antigo ditado popular”, brinca. 
   Apesar dos cuidados para diminuir as perdas no momento da colheita, a Faep tem uma preocupação em proporções ainda maiores. É a perda do pós-colheita, que envolve o transporte e a armazenagem dos grãos, processo ligado mais à área de logística. Segundo o assessor da entidade, ainda não é possível mensurar o tamanho desta perda no Estado ou em qualquer região do mundo. “O grau de perda é grande, mas não temos isso quantificado. A partir do momento qe se carrega o caminhão, passando pela armazenagem até chegar à indústria ou ao porto, são muitas etapas. Já cansei de ver caminhões nas estradas do Paraná despejando soja por aí”, relata.
   Depois de alguns estudos contratados junto ao Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Grupo Esalq-Log), Hanke comenta que ainda não se chegou a um número acerca dessa discussão. “Provavelmente vamos contratá-los novamente no ano que veme fazer um grande trabalho em cima deste tema tão importante”, prece. ( V.L) ( VICTOR LOPES – REPORTAGEM LOCAL, páginas 4 e 5 . FOLHA RURAL, sábado, 7 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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