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domingo, 29 de novembro de 2015

FIADO SÓ AMANHÃ




   Primeira lição de educação financeira foi quando, menino, perguntei ao pai porque  aquela plaquinha na padaria, e ele explicou
   - Quem pede fiado, diz que vai pagar amanhã mas pode nunca pagar, então o padeiro avisa que fiado só amanhã...

   Na Alemanha, vi gente guardando com carinho,  no moedeiro, velhas moedinhas de um centavo, tão gastas que mal dava para ver a efígie de Adenauer, o primeiro-ministro que a criou, e era preciso juntar algumas para comprar um chiclete.
   - Mas – explicam os alemães – nós  as usamos sempre, pois foi com ela que reerguemos a Alemanha depois da guerra.

   Aqui, o comerciante nem ao menos dá mais a balinha em troca dos centavos, e o consumidor acostumou-se a não exigir, mas um amigo economista garante:
   - Inflação não começa com um ou dez por cento, começa com 0,1 por cento.

   Mas nossa moeda de um centavo foi abolida em 2004. É, agora, banco oficial envia a aposentados cartão de crédito com limite de saldo negativo maior que a aposentadoria. Sei de aposentado por esquizofrenia, e viciado em drogas, que no mesmo dia torrou tudo em roupas novas e drogas, sem se importar que irá pagar, durante anos, juros mensais de até 2,14%. Com juros sobre juros, além de empobrecer a cada mês, acabará pagando muito mais do que sacou. Quando terminar de pagar a dívida, as novas roupas já terão virado trapos há muito tempo.

   Há pouco, o Banco Central aumentou de 30 para 35% o percentual da renda usável com crédito consignado, e esses novos 5% só poderão pagar dívidas... de cartão de crédito! Assim os bancos, que já empresta dinheiro consignado a taxas bem maiores que a da poupança, sem inadimplência, com as mensalidades descontadas na fonte,  poderão abater mais dívidas em parceria com o INSS, que desta forma trabalha para os bancos sem ganhar nada, ao menos oficialmente. É um ajuste-bancário social, o povo ficando com as dívidas e os bancos com os lucros.

   Um dos principais motivos da atual crise é esta: o governo trabalhou e trabalha para aumentar as dívidas da população e desestimular a poupança, exatamente o contrário de países que saíram do fundo do poço graças à poupança, como a Alemanha e o Japão.

   Enquanto isso, o Banco Central informa que quase metade da população (46,3%) está comprometida com dívidas. Assim, pagam mais caro e compram menos, desativando o comércio e a indústria, portanto baixando a arrecadação dos tributos diretos, cobrados pelo governo na fonte, enquanto diminui a massa salarial que paga por esses tributos no consumo. Ou seja, para ganhar votos, o governo deu crédito, que endividou o povo, gerando crise que empobrece o governo. A ambição é companheira da burrice.


  Enfim, enquanto tanto se fala em ajuste fiscal, o povo continua senso deseducado pelo governo para se endividar mais, gerando mais crise. É o caso de dizer de boca cheia: 
Dívida? Crédito consignado? Só amanhã! (Crônica do escritor londrinense Domingos Pellegrini, página 21, cultura, espaço DOMINGOS
 PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br facebook.com/escritordomingospellegrini fim de semana, 28 e 29 de novembro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

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