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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

DOIS VIAJANTES, UM CARRO E UMA MISSÃO



    Irmãos vão percorrer quase 180 mil quilômetros orientando as pessoas sobre hepatites virais

   Os irmãos Fred Mesquita, de 30 anos, e José Eduardo Júnior, de 32, encontraram uma maneira de unir a aventura de desbravar o mundo com uma causa social. Os irmãos colocaram o pé na estrada e estão levando junto o projeto “Hepatite Zero”, criado pelo Rotary Jardim dos Bandeirantes, de São Paulo, em parceria com a Associação Brasileira de Portadores de Hepatite (ABPH), para erradicação da doença.
   A bordo do Carona, uma Toyota Bandeirantes de 1998, Fred e José Eduardo pretendem percorrer quase 180 mil quilômetros, visitando mais de 50 países nos cinco continentes. As intenções deles são conhecer novas culturas, registrar tudo em imagens e em um diário de bordo e produzir um livro sobre a aventura. Os irmãos batizaram a expedição de “Me Leva Junto”.
   Foi um ano de preparação para a Expedição Me Leva Junto. Eles saíram há cerca de um mês de Presidente Prudente, interior de São Paulo, passaram pelo litoral paulista, e na segunda-feira chegaram a Londrina. Eles ficam na cidade até amanhã e depois seguem para Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e vão para o Paraguai.
   Quando voltarem ao Brasil irão percorrer Mato Grosso, Goiás, Bahia, descerão a costa brasileira até se despedirem do País e iniciarem a segunda fase do Me Leva Junto. De acordo com Fred, esta primeira fase será um teste para avaliar o desempenho do Carona e fazer os últimos ajustes para se aventurar por locais mais distantes. Em cada cidade que os irmãos visitam, eles organizam, em parceria com os clubes rotarianos, a aplicação de testes para identificar portadores do vírus da hepatite C. Em Londrina, ainda não foi definido o local. Em Maringá, será no sábado, no Mercado Municipal. Fred explica que o  teste é rápido e simples, muito parecido com aqueles que medem os níveis de glicose no sangue.
   Estima-se que a hepatite C seja responsável por 350 a 700 mil mortes por ano no mundo. No Brasil são registradas cerca de 3 mil mortes associadas à doença e são em torno de 10 mil casos notificados por ano.
   Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registra 8.040 novos casos de câncer no fígado ao ano. A doença é responsável de 321% a 50% dos transplantes em adultos. Sem diagnóstico até 1993, a hepatite C é uma doença de poucos sintomas e transmitida pelo compartilhamento de objetos de uso pessoal – como alicates de cutícula -, pelo uso de drogas e durante relações sexuais sem proteção.
   A expedição Me Leva Junto aplicou em torno de mil testes durante o primeiro mês de viagem. De acordo com Fred, em cerca de 1% dos testes os resultados foram positivos. Nesses casos, as pessoas foram encaminhadas para exames complementares que vão indicar o tratamento. “Em  Prudente fizemos a ação dentro do shopping e chamou muito a atenção. As pessoas eram atraídas pelo carro e depois viam o banner sobre a hepatite e da nossa expedição. Daí elas começavam a fazer perguntas e faziam o teste. Muitas pessoas desconhecem a doença. Teve o caso de uma pessoa que não sabia que tinha o vírus e possivelmente contraiu após compartilhar alicates de cutícula com parentes”, contou Fred.
   A hepatite C é uma doença que evolui de forma lenta. Leva-se, em média, 20 anos para o aparecimento das consequências e a progressão é pior em pessoas obesas e dependentes de álcool. Cerca de 20% dos pacientes podem desenvolver cirrose e câncer de fígado.
   Além dos testes, a intenção dos irmãos é formar embaixadores do Hepatitis Zero nas cidades por onde passarem.” A nossa proposta é ir além da volta ao mundo, é dar sentido a essa jornada. Vamos orientar as pessoas sobre as hepatites virais, um dos maiores problemas mundiais de saúde, que mata duas vezes mais que a aids. E fazer um projeto social, mostrando que com diagnóstico precoce é possível tratar e até erradicar a doença em todo o mundo em até 20 anos”, disse Fred.

   A VIAGEM


   Durante  os três anos em que estiverem na estrada, os irmãos pretendem fazer uma imersão cultural e, segundo Fred, contaminar as pessoas com o ‘vírus’ fazer o bem viajando”. A expedição também é uma maneira dos irmãos se aproximarem. Os dois perderam os pais e os avós muito cedo e seguiram caminhos diferentes na vida.
   Enquanto José Eduardo permaneceu em Presidente Prudente e se formou em Agronomia, Fred caiu no mundo. Formado em Artes Cênicas, viajou o Brasil, a América do Sul e a Europa com companhias de Teatro de São Paulo. Agora os dois embarcaram no Carona para desbravar novas culturas.
   O carro foi todo adaptado para viajar o mundo todo. E está preparado para enfrentar os desafios previstos nesses cinco continentes, podendo passar por todos os tipos de temperatura e terrenos, como deserto e neve. O veículo também foi adaptado para servir de casa para os irmãos, quando não houver parada ou hospedagem. (ALINE MACHADO PARODI, REPORTAGEM LOCAL, página 3, FOLHA CIDADES, quarta-feira, 25 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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