Páginas

sábado, 31 de outubro de 2015

EDUCAÇÃO E BUROCRACIA



   Quando iniciei minha carreira docente na rede estadual de ensino, há 34 anos, não havia muita burocracia na escola.  Com muita  luta, nós, professores, conquistamos a hora atividade. Acreditava-se, então, que este tempo seria destinado para elaboração e correção de provas, leituras, pesquisas, preparação de material didático diversificado, elaboração de práticas pedagógicas inovadoras, cursos de capacitação, tornando assim nossas aulas mais dinâmicas, agradáveis e atrativas para o estudante. Mas, infelizmente, não é bem isso o que acontece. 
   A cada ano a burocracia aumenta. As atividades burocráticas são tantas, que nós passamos uma boa parte da hora atividade preenchendo formulários, fichas, pareceres relatórios, planejamentos, replanejamentos, propostas pedagógicas quilométricas e uma infinidade de papéis inúteis que, na maioria das  vezes, não são lidos e acabam engavetados. Muitos papéis e informações escritas são repetitivas  e desnecessárias e nada acrescentam na melhoria da educação. Essa, por sua vez, muda conforme o governo eleito e de acordo com a ideologia do partido político que representa o poder. Ficamos como baratas tontas tentando reformular, mudar e adaptar propostas educacionais o tempo todo. Não há continuísmo nem uma rotina escolar a ser seguida. Não quero dizer que a educação deva ser uma rotina e uma mesmice, ao contrário, devemos acompanhar as mudanças tecnológicas e a modernidade sim, mas sem muita burocracia, pois estamos sendo escravizados por ela, não só na educação mas em todas as áreas.
   Este excesso de atividade burocrática compromete a saúde dos professores e, consequentemente, a qualidade de vida desses profissionais que se sentem estressados, , descontentes e impotentes diante de tanta burocracia, sentindo-se fracassados por não conseguirem apresentar um bom trabalho e poder realizar-se profissionalmente. Não é à toa que a procura por cursos de licenciatura vem diminuindo a cada ano. A desvalorização profissional do professor e a papelada têm contribuído para isso. Percebemos também que o lado humano da escola está sendo deixado  de lado,  dando prioridade as funções burocráticas. Parece até que a qualidade da educação é medida pela quantidade de papéis que se produz. Sem falar que o excesso de burocracia também gera um grande desperdício de tempo, tinta e papéis, isso é, dinheiro público jogado fora, tornando-se ecologicamente incorreto.
   O excesso burocrático também pode ser fatal. Na saúde, por exemplo, mata pacientes que espera por uma consulta, um exame, um tratamento ou uma cirurgia de urgência que não acontece, na maioria das vezes, por falta de algum papel ( documentação insuficiente), aumentando o tempo de espera na fila. Isso pode levar um paciente à morte. É uma espécie de “burocracídio” (neologismo). Na educação não é diferente. Nesse setor, o excesso burocrático “mata”  a oportunidade do estudante ter uma educação “padrão Fifa””.
   Enquanto a burocracia imperar na educação pública, esta ficará comprometida e estagnada. Entra e sai governo e mudam-se as siglas partidárias, mas nenhuma mudança concreta, vinda dos nossos governantes, acontece para melhorar essa situação. A culpa da crise na educação é sempre atribuída ao professor e não ao sistema que também  contribui para o fracasso escolar. Como trabalhar numa “escola par todos”, atendendo a “diversidade”, com todo esse excesso burocrático?
   Tornar a educação pública mais eficiente, com menos burocracia, limitando-se apenas a papéis realmente necessários , dando a oportunidade para que o professor utilize a hora atividade para realizar um bom trabalho pedagógico pode contribuir e muito, para a melhoria da qualidade da educação pública paranaense. Cabe aos órgãos públicos a criação de mecanismos para promoção e desburocratização educacional ou pelo menos minimizar esse problema. Quem sabe um dia isso aconteça. Vamos esperar. ( APARECIDA VIEIRA REMES, professora da rede pública em Borrazópolis, página 1, ESPAÇO ABERTO, sábado, 31 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).


Nenhum comentário:

Postar um comentário