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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

QUANDO UM FILHO MORRE



   Uma mãe jamais será capaz de dizer adeus a seu filho morto. Ela pode velá-lo, se esvair em lágrimas e perder todas as forças. O sol pode nunca mais voltar a brilhar, a alegria pode deixar de ser um sentimento em seu peito. Mas o adeus jamais vai se concretizar.
   E não precisa. Porque o que ela enterra é somente o corpo físico do filho.
Uma parte importante, claro, e que foi gerada ( e alimentada, no início) a partir de seu próprio corpo. Mas que leva apenas os verbos que poderiam se concretizar – brincar, afagar, se preocupar, proteger, ralhar, se preocupar de novo (porque a preocupação dá mais cor aos outros verbos) – e que se resumem em: conviver e compartilhar.
   Nõ haverá novas experiências, não haverá a admiração e o orgulho com as novas conquistas – com as quais a mae sonha desde antes de engravidar. Não haverá o filho maduro, reconhecendo como foi importante a estrutura recebida dos pais da maneira mais bonita: repassando agora para seus próprios filhos. E, com isso, parece que o ciclo da vida foi interrompido.
   Mas não foi. Porque a mãe carregará para sempre esse filho. Se não terá mais os verbos, os sentimentos continuarão intactos por toda a vida. E podem crescer, por que não?
   A mãe que perde um filho, apenas por  sobreviver a essa provocação, ensina à humanidade uma lição sobre o amor que de nenhuma outra forma poderia ser ensinada. O amor onipresente, incondicional. E, mais do que nunca, eterno – no amor por sua mãe que o filho carrega consigo para o céu. ( ADRIANA ITO, editora da FOLHA 2, escreveu este texto pensando nas mães de João Pedro, do Mateus, da Sofia e do Rodrigo. E do Bernardo. Página 3, FOLHA 2, espaço CRÔNICAS, quarta-feira, 23 de setembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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