Páginas

quarta-feira, 8 de julho de 2015

FAZEDORA DE SONHOS

  


   Referência em vestidos de noivas em Londrina e região  há  mais de 30 anos, estilista Margareth Carmona reúne histórias para escrever um livro.


   Na próxima quinta-feira, a estilista Margareth Carmona será homenageada durante evento do curso técnico em vestuário do Senai . “Iam me fazer uma surpresa, mas depois ficaram com medo de eu não comparecer. Mas nunca deixei de ir, faço questão de prestigiar esses eventos”, explica Margareth sempre em contato com jovens talentos. “A minha chefe de produção tem 22 anos e já está  comigo á quatro anos”, conta. “É estimulante estar com os jovens”.
   Com 34 nos de experiência criando e confeccionando vestidos de festa e de noivas, a estilista virou uma referência não só em Londrina  como também na região. “Só nasci fora, em Birigui (SP), mas me considero londrinense. Meus pais já tinham escolhido Londrina para se estabelecer, minha mãe carioca, meu pai do interior de São Paulo.
   “Perdi meu pai com 15 para 16 anos, então aos 16 anos eu tive de empreender”, conta Margareth, que usou os ensinamentos de corte e costura que teve ainda no colégio para confeccionar vestidos para as amigas. “Naquela época era alta costura mesmo,tudo feito à mão”, lembra. O traço utilizado para os croquis veio de Belas Artes, em Curitiba.
   Cursos de moda na França e na Itália completam o currículo da estilista. “Conheci o Clodovil em um dos desfiles da Rhodia, que em 1968 era um acontecimento sem igual”, resgata Margareth, sobre um dos ícones da moda brasileira”.
   A estilista não chegou a se casar, “decidi 60 dias antes do casamento e foi a melhor decisão. Pude fazer tudo o que eu quis e não poderia ter feito se tivesse casado” afirma. Mas o vestdo que usaria tinha a sua assinatura. “Não conto quantos vestidos eu já fiz,não gosto. Talvez a moça do financeiro saiba tudo, mas não procuro saber”, confessa.
   Em média, um vestido de noiva assinado por Margareth leva cerca de 90 dias para ficar pronto. “Mas já fiz um em oito dias. Claro que com duas pessoas dedicadas o tempo  inteiro a ele”, diz. “Só que eu gosto mesmo de fazer com antecedência. Quando eu tinha 15 anos, não aprontaram a tempo o meu vestido de debut”, conta a estilista. Ela transformou o trauma da adolescência em uma das suas qualidades, antecipar a entrega do vestido.
   Tenho corpo de 60 anos com cabeça de 30. Só penso em aposentar depois dos 80. E aí  que vou ver o livro”, afirma. Nos últimos anos, Margareth começou a colecionar história de  bastidores com as noivas para publicar um livro, mas tudo com a discrição e elegância que a acompanham. “O vestido da noiva diz tudo”, explica a estilista, que costuma ter uma longa primeira conversa com as  noivas. “Fico cerca de duas horas conversando e vou anotando tudo sobre o que ela realmente quer e espera do vestido”.
   Um dos cursos que ela fez na Itália foi justamente de psicologia para noivas. “Aprendi que a gente tem que ajudar a desenrolar o carretel sem deixar embaralhar”, diz a estilista, numa metáfora de costura que serve bem par definir sua relação com as noivas. Ela desenrola as  histórias  sem perder o fio da meada
   “Não sou boa vendedora, sou boa fazedora de sonhos”, dispara Margareth sobre seu trabalho”. Tanto que 90% das noivas não querem saber de devolver os vestidos, preferem comprar mesmo”, diz, considerando que há dois anos ela também passou a alugar vestidos por conta de uma demanda de mercado.
   O movimento no ateliê só começa depois das 7 da manhã, mas às 6 horas Margareth já está pronta para o dia de expediente. “ Sou mesmo workaholic e sempre tenho que me superar.  Mas  a disciplina que tenho para o trabalho não tenho para os exercícios, por exemplo”, diverte-se. Amante de viagens, ela garimpa inspiração de cada passeio. “O simples fato de sair nas rua me inspira. E os meus bordados são 100% inspirados na natureza.  No  movimento  das folhas, na luz e na textura”, ensina.
   Mesmo em tempos digitais, a estilista ainda desenha à mão os croquis. “Em todos esses anos não me lembro de clientes frustrados com o que o desenho se transformou”, orgulha-se O sonho então vira realidade nas rendas, nas sedas e nos bordados. ( KARLA MATIDA – REPORTAGEM LOCAL, caderno FOLHA GENTE, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 5 de julho de 2015).

Nenhum comentário:

Postar um comentário