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domingo, 21 de junho de 2015

NOTÍCIAS DA CHÁCARA

                                                            

   DESDE CRIANÇA  tomo banho com bucha. A praça onde fazemos ginástica tem creche, em cujo alambrado um pé de bucha cresceu, bonito como só, sempre com flores amarelas e buchas que a gente vê crescer de um dia para outro. Colhemos uma, tingimos de vermelho, colocamos olhos de botões e tornou-se uma cobra a enfeitar a mesa da sala.
   MARACUJAZEIRO cresceu demais, todo se enramando nos arames entre dois esteios, suas ramas se espalhando pelas mandioqueiras, e, como recebia pouco sol, os maracujás estavam miúdos e demorando a amadurar. Cortei com dó e surpreso de achar vinte maracujás, que depois amadureceram  e deram ótimo suco.   Bebi  lembrando  do companheiro que, mesmo sendo ceifado, nos deixou aroma e sabor.
   TEMPESTADE deixou calha por consertar, derrubou galhos secos que catei para a fogueira dos netos, e derrubou também trepadeira, daí aproveitei para também  consertar seu caramanchão. Obrigado tempestade/ por tudo que já me deste/ tanta coisa pra consertar/ e enfim esse azul celeste.
   VELHAS BOTAS de borracha me apertaram os pés durante década e meia, e ainda estavam em condições de uso, quando mais uma vez reclamei do esforço para tirar as danadas dos pés, e Dalva me perguntou porque, ora, eu não comprava botas novas e maiores. Comprei, e toda vez que calço, fico perguntando porque  fiquei mais de década sofrendo com as velhas botas. Às vezes a gente sofre por pura bobeira.
   RECEITA para acompanhar assados: batatas-doce embrulhadas em papel laminado, ou, na meia hora final do assamento, bananas com casca. As batatas ficam muito mais gostosas que cozidas, e as bananas viram doce sem açúcar. Se quiser sofisticar, espete cravos numa maçã e bote no forno  meia hora antes de tirar o assado. Como disse da Vinci, simplicidade é o máximo da sofisticação.
   MACACÃO de lidar na chácara, quanto mais velho, mais gosto. Está remendado, o brim afinou de tantas lavagens, um dia virará pano de chão. Mas, antes, faço-lhe um poeminha:
                                                            Você me agarra porque
                                                             o suor empapa o pano
                                                      e eu me transformo em você
                                                              você se torna humano
                                                      Meu  macacão companheiro
                                                         meu eu em forma de brim
                                                      com meu corpo e meu cheiro
                                                               até  que tiro de mim

                                                        Só mesmo a minha sombra
                                                               anda tão junto assim
                                                         Das canelas até os ombros
                                                                terei saudade de ti.   ( Página 21, espaço DOMINGOS
 PELLEGRINI  d.pellegrini@sercomtel.com.br  publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 21 de junho de 2015).

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