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quarta-feira, 27 de maio de 2015

ETIMOLOGIA: VALE A PENA SER CURIOSO


Conforme já comentamos em uma das primeiras colunas, o estudo de uma língua é feito através de uma série de áreas. A gramática (conjunto de regras) é apenas uma dessas áreas do conhecimento. Também temos a morfologia ( que estuda a forma das palavras), a sintaxe (função das palavras no texto)a fonética e a fonologia ( estudo dos sons) e várias outras.
   Mas hoje vamos tratar de uma das partes mais interessantes e curiosas da língua: a etimologia. Trata do estudo da história das palavras, de sua origem e de sua evolução através dos tempos. Falando assim, pode não parecer tão atrativo, mas garanto que, sendo curioso sobre o assunto, você vai acabar descobrindo coisas que nem imaginamos. Vamos ver alguns exemplos.
Decorar: Na sua vida escolar, com certeza você já teve que decorar algo, ou, em outras palavras, saber de cor. O que talvez você não saiba é que essa palavra vem do latim “cor” ou “cordis”, que significa coração. Isso porque os antigos (o s gregos e, posteriormente, os romanos) acreditavam que informações e sentimentos eram guardados no coração, e não no cérebro. Consequentemente, aquilo que você guardou e não esqueceu foi “decorado”, ou seja, “armazenado” no coração. Só pra complementar, a palavra “cardis” também deu origem a termos como “cardíaco” ou, “cardiologista”.
Judiar: Essa tem uma explicação triste. Com certeza você já utilizou esse verbo, ou talvez um de seus derivados, como o substantivo “judiação”, mas provavelmente sem saber que a palavra vem de “judeu”.  Significa  tratar alguém como os judeus foram tratados (ou maltratados), para ser mais específico). Logicamente, a situação dos  judeus hoje em dia é bem diferente do passado, mas o termo permaneceu. Algumas pessoas consideram, inclusive, que é uma palavra preconceituosa, que deveria ser evitada, como o próximo exemplo.
Denegrir: Ao pé da letra quer dizer “torrar negro”. Se for usada no sentido mais literal, de escurecer, não há problema, como por exemplo, em “a unha do polegar denegriu-se por causa da pancada”. O problema é que se usarmos no sentido mais comum, de tornar algo ruim (“isso denegriu a imagem  do político”), há uma clara conotação racista, de que o que é negro é ruim. Mais ou menos como acontece com a expressão  “a coisa está preta).
Gorjeta: Essa é bem curiosa, pois vem de uma palavra pouco conhecida na língua portuguesa, “gorja”, que significa “garganta”. Podemos encontrar outra  palavra  da mesma família nos versos de  Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá;  aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”. No caso das aves, tudo bem, afinal elas usam a garganta para cantar (gorjear), mas o que isso tem a ver com a gorjeta dada a algum trabalhador? Bem, antigamente, era comum pagar uma bebida a quem executava pequenos serviços, como agradecimento. O problema é que a pessoa, depois de várias “gorjetas”, ficava embriagada e incapaz de continuar trabalhando. Então, pouco a pouco, a bebida foi sendo substituída por um trocadinho, dando origem à ideia de gorjeta que temos hoje em dia.

   Esses são alguns exemplos de como podemos aprender mais sobre a língua simplesmente sendo curiosos. Para descobrir mais, você pode buscar em bons dicionários, que geralmente trazem alguma informação sobre a origem da palavra. Ou, para ser ainda mais específico, é possível  encontrar na maioria das bibliotecas um exemplar de um dicionário etimológico, que trata especificamente do tema. Claro que você também pode recorrer à  internet, mas lembre-se de que nem tudo aí é confiável, é importante buscar um site com credibilidade para isso.
   Em outra ocasião voltaremos a tratar do tema.  Enquanto isso, mande suas dúvidas e sugestões para o nosso e-mail: bemdito14@gmail.com.  Até a próxima terça. FLAVIANO LOPES – Professor de Português e Espanhol. Caderno FOLHA 2, página 5, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira, 26 de maio de 2015).

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