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terça-feira, 28 de abril de 2015

SOTAQUE O R


   O R (erre)  caipira é nosso! Nasceu em terras tupininquins. É invenção brasileira – uma mistura portuguesa e indígena, claro. E, atestam especialistas, está em franca expansão. Pensar que a pronúncia, conhecida tecnicamente de R retroflexo, é exclusividade  do interior do centro-sul é  um grande engano. O jeito caipira de falar está invadindo capitais. Há diversas e diferentes razões para entender como o sotaque surgiu e porque está se espalhando.
   “ Chamamos de   R retroflexo  porque a língua flexiona para trás.Ele é encontrado no sul de Minas Gerais. No Triângulo Mineiro, em São Paulo inteiro, no Paraná praticamente inteiro, no oeste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, em regiões do Mato Grosso e parte de Goiás”, explica a professora Vanderci de Andrade Aguilera, pós doutora em sociolingüística e professora do programa de pós-graduação em estudos da linguagem da Universidade Estadual de Londrina(UEL).
Colonização
   Tudo começou com os portugueses que se misturaram à índias no início da colonização brasileira. “É oriundo de São Vicente. No século 16, quando se formaram as capitanias hereditárias, tinha a de São Vicente. É uma mistura do contato entre  portugueses com as índias tupis, que formaram famílias. Os portugueses tinham o L (ele)no final das palavras ou de alguma sílaba, que é o L coronal, atrás dos dentes. Mas, esse L não tinha na língua tupi, que tinha dificuldade de pronunciar o L dando origem ao R retroflexo”, explica Vanderci.
   É por isso que os moradores de regiões com esse tipo de variação lingüística têm facilidade em  trocar uma letra por outra, pronunciando “pranta” em vez de planta. Adoniram Barbosa eternizou esse jeito de falar no verso “frechada  do teu olhar”, em Tiro ao Álvaro. Da Baixada Santista, onde estava a capitania de São Vicente, o R reflexo pouco a pouco foi disseminado pelo estado de São Paulo e outras regiões do Brasil.
   Em Londrina, - e na região Norte do Paraná – chegou pelas falas dos bandeirantes paulistas e dos mineiros lavradores, no início do século 20. “Aqui em Londrina foi trazido com os mineiros  do sul de Minas Gerais, que vieram plantar café, e com os paulistas do interior”, aponta Vanderci. Na capital de São Paulo, a predominância é o R alveolar vibrante enquanto no Rio de Janeiro se encontra o R velar.
Chique

   Agora, em pleno século 21, o tal R caipira está conquistando novos lugares. Tenho notícias de que em algumas regiões do Pará e de Rondônia, o R está  crescendo , levados por pessoas que saem daqui e vão para lá. Em Curitiba, quase não se ouvia. Era apenas 5%. Hoje tem mais de 30%.  Brinco  que  agora ser caipira é chique”.
   Para a professora doutora em estudo da linguagem Fabiane Cristina Altino, do Departamento de Letras Vernáculas da UEL, há razões que explicam essa expansão. “Uma das possibilidades é a grande  renda per capita do interior. Temos o agronegócio, ainda muito forte. E onde  está o dinheiro está a norma”, ressalta Fabiane. “A gente encontra em jovens de Curitiba, pela mobilidade e facilidade de caminhar. A mídia influencia e, com certeza, a música sertaneja da década de 1980  para cá. Na aula digo que não há dupla sertaneja  que usa o R velar (característico do Rio de Janeiro). ( Extraído da página 19, Cultura , de FÁBIO LEPORINI  Fabio@jornaldelondrina.com.br , publicação do JORNAL DE LONDRINA, rerça-feira, 28 de abril de 2015). 

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